São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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AJUSTE DE CONTAS

Continua em curso o ajuste das contas externas brasileiras. Entre janeiro e setembro, o superávit em transações correntes (comércio de bens e serviços do país com o exterior) alcançou US$ 9,6 bilhões, equivalentes a 2,28% do PIB, de acordo com o Banco Central. Resultados como este têm sido possíveis graças ao bom desempenho da balança comercial, cujo saldo atingiu US$ 25,1 bilhões no mesmo período.
O superávit em transações correntes, juntamente com a entrada de investimento estrangeiro direto, vem permitindo a redução da dependência da economia brasileira em relação aos humores internacionais. Nesse cenário, a conta financeira ficou negativa em US$ 7,9 bilhões, o que sugere que os diferentes agentes econômicos estão reduzindo seus níveis de endividamento.
Infelizmente, as autoridades econômicas não têm aproveitado os ventos favoráveis para ampliar as reservas do país em moeda estrangeira e consolidar a redução da vulnerabilidade externa. As reservas estão em US$ 22,9 bilhões, muito abaixo das mantidas por países emergentes, como a Coréia do Sul (cerca de US$ 150 bilhões) e o México (US$ 58 bilhões).
Reservas tornam-se ainda mais relevantes quando se levam em conta sinais de possível reversão do ciclo de alta dos preços de commodities que ocupam lugar importante nas exportações do Brasil. Em alguns produtos, observa-se queda de preço em torno de 20%, o que pode prejudicar o saldo comercial.
Além disso, pesquisa da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) mostra que o movimento de substituição de importações, iniciado com a desvalorização cambial de 1999 e intensificado em 2001, foi parcial. Atingiu 12 dos 26 principais insumos e bens de capital utilizados pela indústria nacional.
Com efeito, até o momento, não se configura uma mudança estrutural na base de produção de bens intermediários no país, que ainda mantém um elevado patamar de importações de peças e componentes. Esse cenário fortalece o argumento de que o governo deve avançar em políticas voltadas para a manutenção de elevados saldos comerciais e reforçar as reservas em divisa.


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