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A ARMA DO REFERENDO
Ainda durante a apuração dos
votos do referendo sobre a
proibição do comércio de armas e
munições, diversos grupos já se puseram a propor novas consultas. Há
temas para todos os gostos. Partidários do "não", vitoriosos na consulta
de domingo, já falam em submeter
ao crivo popular a redução da maioridade penal e a instituição da prisão
perpétua. Já o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral, ministro Carlos
Velloso, defensor do uso regular de
plebiscitos, propôs uma consulta
acerca da descriminação do aborto
em casos de anencefalia.
Referendos e plebiscitos são ferramentas democráticas das quais o
Brasil lamentavelmente se utiliza
pouco. É o caso de ampliar o número
das consultas e torná-las mais regulares. Mas isso não significa que se
possa perguntar qualquer coisa. O
próprio referendo sobre as armas é
um bom contra-exemplo. Foram
gastos cerca de R$ 250 milhões para
decidir sobre um dispositivo de reduzido impacto. O investimento teria
valido a pena se mais perguntas tivessem sido levadas à população, o
que não ocorreu.
Outro exemplo de consulta estapafúrdia é o da prisão perpétua. Tal pena é expressamente banida pela
Constituição (art. 5º, inciso XLVII),
em dispositivo que constitui cláusula
pétrea. Um plebiscito para instituí-la
seria, portanto, ilegal. E o mesmo vale para a pena de morte.
É preciso lembrar ainda que bons
referendos não devem resultar em
leis que criem gastos. A Califórnia
caiu nessa armadilha. Belíssimos e
caríssimos projetos foram aprovados, num processo que praticamente
quebrou o governo do mais próspero
Estado do país mais rico do mundo.
Deve-se considerar também o risco
da contaminação política. Como a
Europa ensinou em plebiscitos recentes, muitas vezes a população encontra na votação uma oportunidade
para protestar contra o governo de
turno, transferindo a questão central
para segundo plano.
Seja como for, a democracia brasileira pode e deve incorporar consultas a seu calendário eleitoral, mas
restritas a temas que impliquem mudanças de vulto e observadas as cautelas constitucionais e do bom senso. A título de exemplo, alguns temas que parecem apropriados são o
fim do voto obrigatório, a adoção do
sistema eleitoral distrital ou a extinção da vice-Presidência.
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