|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O contrato necessário
MADRI - A 17ª Cúpula Iberoamericana (Santiago do Chile, 8 a 10 de
novembro) tem como tema uma
formulação tão extensa quanto excessivamente retórica: "Coesão social e políticas públicas para alcançar sociedades mais inclusivas na
América Latina".
Fica algo mais concreto quando
redefinido para "contrato para coesão social na forma de um grande
acordo entre forças políticas, econômicas e sociais".
Ah, gritará imediatamente você
que tem memória longa: de novo o
tal de pacto social?
É, de fato, um pouco disso, que
parece tema batido e derrotado. Superemos por um momento a desconfiança para ler o cimento do
"contrato", na definição de um texto preparado pela Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina)
para a Cúpula de Santiago.
Tratar-se-ia da "aceitação da legitimidade do exercício do poder, da
imposição de obrigações por parte
do Estado, da renúncia à violência
privada e da aceitação do monopólio estatal da coerção".
Chega a ser inacreditável que
princípios que são básicos ainda estejam em discussão ao menos no
Brasil, do que dão provas contundente e assustadoras as polêmicas
em torno dos textos de Luciano
Huck e de Ferréz para esta Folha e
sobre o filme "Tropa de Elite".
O fato é que, no Brasil, há muita
gente que aceita a "violência privada", enquanto o próprio poder público é incapaz de exercer "o monopólio estatal da coerção".
Reitero que os princípios antes
enunciados são apenas o básico. A
partir deles é que se chegaria ao tal
"contrato". É sempre bom acrescentar que a América Latina é a região mais desigual do planeta e que
o Brasil, mesmo encravado nessa
região tão desigual, consegue ser
dos mais desiguais.
Tudo somado, o tema da cúpula
deixa de ser retórico. Se se materializa na vida real, além da cúpula, já
é outra discussão.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Senado no escuro
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Amigos desde criancinha Índice
|