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CARLOS HEITOR CONY
A vida fácil
RIO DE JANEIRO - O teólogo suíço Hans Küng esteve entre nós e,
mais uma vez, expressou a sua idéia
básica: "A igreja (romana) deve tornar a vida das pessoas mais fácil, e
não mais difícil". Ele desce a exemplos sintomáticos das dificuldades
que a religião, no caso a católica,
cria para seus adeptos. Acontece
que todas as religiões, inclusive a
católica, não se destinam a criar
uma vida mais fácil para seus fiéis.
Pretendem criar uma vida melhor
em relação com o Deus escolhido.
E, em se tratando de um Deus escolhido pelo crente, a vida melhor
não é exatamente a mais fácil, muitas vezes é a mais difícil. Todos têm
o direito de acreditar ou não em um
Deus, mas, uma vez escolhido um
Deus e uma ciência relativa a Ele (a
teologia, qualquer teologia), o crente se obriga a um conjunto de idéias
e modos que, em tese, o tornarão
melhor diante do Deus que ele
escolheu.
Há religiões bem mais restritivas
do que a católica em relação ao
comportamento individual e social
de seus crentes. Abstraindo os
grandes temas polêmicos que irritam e dividem os fiéis (aborto, divórcio etc.), há religiões que proíbem transplantes, transfusões, serviço militar, certos alimentos e bebidas. Muçulmanos e judeus, que
também professam o monoteísmo,
cumprem uma agenda proibitiva
tão grande ou maior do que a dos
católicos.
Lembro de uma visita do ex-chanceler Shimon Peres ao Rio. Religioso, num sábado ele foi à sinagoga da ARI, em Botafogo. Estava hospedado em Copacabana. Com sua
comitiva, ele atravessou o túnel Novo a pé: há judeus ortodoxos que
guardam o sábado e evitam usar os
recursos mecânicos que "facilitam"
a vida do homem moderno.
Ninguém pode ser contra a vida
fácil, que antigamente era atribuída
a mulheres que a praticavam. Mas a
finalidade das religiões é outra.
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