São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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KENNETH MAXWELL

As narcoguerras

GEORGE W. BUSH ama suas "guerras", e também ama o México, quando se lembra de que o país existe. Pouco depois de assumir, em 20 de janeiro de 2001, o primeiro ato oficial de Bush foi viajar ao México para uma visita ao então presidente Vicente Fox, em seu rancho em Guanajuato.
Mas o México não se tornou prioridade para Bush -até esta semana, quando ele pediu que o Congresso dos Estados Unidos aprovasse uma verba de US$ 500 milhões para ajudar o novo presidente do México, Felipe Calderón, a combater as quadrilhas mexicanas de tráfico de drogas, cada vez mais violentas.
Ironicamente, ao longo da maior parte dos dois mandatos de Bush, a "guerra contra as drogas" dos Estados Unidos tampouco vem sendo prioridade. A opinião dominante sobre o esforço é que ele foi um dispendioso fracasso. As velhas políticas continuam em vigor por inércia, e para satisfazer os interesses egoístas das burocracias federais e estaduais envolvidas, que despendem mais de US$ 50 bilhões ao ano no combate às drogas. E há também as severas conseqüências das normas jurídicas, que dispõem sentenças de prisão compulsória para a posse de drogas, o que criminaliza as vítimas e garante que sua marginalização social e dependência química se agravem.
Muitos argumentam que toda a questão das drogas deveria ser tratada como doença, e não como guerra; e que é preciso envolver a ciência com o objetivo de identificar os fatores de risco que levam as pessoas a sucumbir ao vício, bem como para reconhecer a vulnerabilidade das pessoas à reincidência, em longo prazo, mesmo que passem por programas bem-sucedidos de desintoxicação. Essas são basicamente questões de medicina, e de compreender o funcionamento do cérebro. Os desafios são genéticos e do ambiente social, e não podem ser resolvidos somente por tropas de choque.
Infelizmente, o novo "Plano México" de Bush se assemelha muito ao velho "Plano Colômbia", também considerado em larga medida como fracasso no que tange ao seu principal objetivo: reduzir o suprimento de cocaína pela destruição dos cartéis que controlam o tráfico e pelo uso de fumigação aérea para erradicar as plantações de coca. De fato, o narcotráfico se diversificou e se aliou a grupos paramilitares e a organizações criminosas internacionais. As rotas e o comércio se transferiram ao Brasil e à Europa.
E, nas ruas, a cocaína é hoje mais barata, mais acessível e mais pura do que no passado. Mas, para os políticos, é mais fácil vender Rambo para a platéia -no Brasil não menos que em Washington.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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