São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Editoriais

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Batalhas no câmbio

Combater as oscilações bruscas na cotação do dólar é essencial para preservar expectativas de crescimento econômico

AS MEDIDAS das autoridades econômicas dos países desenvolvidos visando resgatar a confiança no sistema financeiro começaram a dar resultados. Não obstante, o receio de que a recessão nessas nações será bem mais forte do que até recentemente se esperava renovou as ondas de incerteza mundo afora.
Como conseqüência, os investidores aceleraram novamente a fuga em direção a aplicações vistas como mais seguras. A corrida à compra de títulos de dívida do Tesouro americano favoreceu uma nova rodada, ainda mais intensa, de valorização da moeda americana no mundo. E novamente a alta do dólar se revela mais pronunciada no Brasil.
Isso não se deve a uma percepção de que o país se encontra mais fragilizado do que os demais: o risco-Brasil subiu muito, mas bem menos do que o índice de inúmeras outras nações. É evidente que processos em curso no próprio país estão pesando.
Vários fatores elevam a demanda por dólares e restringem a sua oferta. Empresas que se aventuraram em operações financeiras de altíssimo risco estão pressionadas a comprar moeda estrangeira para amenizar prejuízos colossais. Exportadores e outras empresas, repentinamente privados de crédito, têm de comprar moeda estrangeira a fim de importar os componentes necessários para honrar seus contratos de fornecimento. Compram dólar a qualquer preço. Investidores estrangeiros ampliam suas remessas para o exterior.
Em meio a essa grande demanda pela divisa americana, paradoxalmente, grande parte dos lotes de dólares que o BC tem oferecido ao mercado não encontra compradores. A explicação parece residir numa queda-de-braço: sabedores do efeito nefasto da disparada do dólar sobre a economia em geral, operadores financeiros aguardam uma ação das autoridades que derrube sua cotação. Isso permitiria, conforme o caso, amenizar prejuízos ou mesmo aumentar seus ganhos.
Enquanto o impasse se prolonga, a alta violenta e as oscilações brutais do dólar envenenam o ambiente. A formação de preços fica sem referências, as expectativas de inflação aumentam, negócios são paralisados, o comércio exterior recebe uma trava, o crédito diminui bruscamente.
A reação do Banco Central para enfrentar essas pressões foi um programa de venda de até US$ 50 bilhões por meio de leilões de swap cambial. Equivale a uma farta oferta de moeda estrangeira no mercado futuro, um dos focos da disparada do dólar.
Dado o grau de incerteza predominante talvez essas decisões não sejam suficientes para conter as oscilações violentas da taxa de câmbio. As autoridades não deveriam dispensar um ajuste prudencial de regras, a fim de limitar a especulação com o câmbio. Outra alternativa, de implementação mais espinhosa, seria o governo vender dólar para empresas desmontarem as posições especulativas a uma determinada taxa de câmbio, mediante a explicitação dos prejuízos e a entrega de garantias (ações).
Combater a montanha-russa no câmbio é essencial para reverter uma piora de expectativas que vai minando as perspectivas de crescimento para 2009.


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