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Batalhas no câmbio
Combater as oscilações bruscas na cotação do dólar é essencial para preservar expectativas de crescimento econômico
AS MEDIDAS das autoridades econômicas dos
países desenvolvidos
visando resgatar a confiança no sistema financeiro começaram a dar resultados. Não
obstante, o receio de que a recessão nessas nações será bem mais
forte do que até recentemente se
esperava renovou as ondas de incerteza mundo afora.
Como conseqüência, os investidores aceleraram novamente a
fuga em direção a aplicações vistas como mais seguras. A corrida
à compra de títulos de dívida do
Tesouro americano favoreceu
uma nova rodada, ainda mais intensa, de valorização da moeda
americana no mundo. E novamente a alta do dólar se revela
mais pronunciada no Brasil.
Isso não se deve a uma percepção de que o país se encontra
mais fragilizado do que os demais: o risco-Brasil subiu muito,
mas bem menos do que o índice
de inúmeras outras nações. É
evidente que processos em curso
no próprio país estão pesando.
Vários fatores elevam a demanda por dólares e restringem
a sua oferta. Empresas que se
aventuraram em operações financeiras de altíssimo risco estão pressionadas a comprar
moeda estrangeira para amenizar prejuízos colossais. Exportadores e outras empresas, repentinamente privados de crédito,
têm de comprar moeda estrangeira a fim de importar os componentes necessários para honrar seus contratos de fornecimento. Compram dólar a qualquer preço. Investidores estrangeiros ampliam suas remessas
para o exterior.
Em meio a essa grande demanda pela divisa americana, paradoxalmente, grande parte dos lotes de dólares que o BC tem oferecido ao mercado não encontra
compradores. A explicação parece residir numa queda-de-braço:
sabedores do efeito nefasto da
disparada do dólar sobre a economia em geral, operadores financeiros aguardam uma ação
das autoridades que derrube sua
cotação. Isso permitiria, conforme o caso, amenizar prejuízos ou
mesmo aumentar seus ganhos.
Enquanto o impasse se prolonga, a alta violenta e as oscilações
brutais do dólar envenenam o
ambiente. A formação de preços
fica sem referências, as expectativas de inflação aumentam, negócios são paralisados, o comércio exterior recebe uma trava, o
crédito diminui bruscamente.
A reação do Banco Central para enfrentar essas pressões foi
um programa de venda de até
US$ 50 bilhões por meio de leilões de swap cambial. Equivale a
uma farta oferta de moeda estrangeira no mercado futuro, um
dos focos da disparada do dólar.
Dado o grau de incerteza predominante talvez essas decisões
não sejam suficientes para conter as oscilações violentas da taxa de câmbio. As autoridades não
deveriam dispensar um ajuste
prudencial de regras, a fim de limitar a especulação com o câmbio. Outra alternativa, de implementação mais espinhosa, seria
o governo vender dólar para empresas desmontarem as posições
especulativas a uma determinada taxa de câmbio, mediante a
explicitação dos prejuízos e a entrega de garantias (ações).
Combater a montanha-russa
no câmbio é essencial para reverter uma piora de expectativas
que vai minando as perspectivas
de crescimento para 2009.
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