São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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FERNANDO RODRIGUES

A "bananização" dos EUA

WASHINGTON - Em Nova York, a instância equivalente à Câmara de Vereadores aprovou uma lei autorizando o prefeito Michael Bloomberg a concorrer a um terceiro mandato consecutivo. O jornal "The New York Times", conhecido por sua cobertura globalizada e internacional, deu ontem manchete para a possível reeleição do alcaide local.
Aqui em Washington, deputados pularam na jugular de Alan Greenspan na quinta-feira. Queriam uma "confissão" de erros cometidos por ele no período de 1987 a 2006, quando dirigiu o Fed, o Banco Central dos EUA. Relutante, o economista de 82 anos admitiu enganos apenas "parcialmente".
O depoimento de Greenspan durou quase cinco horas. Um oceano de hipocrisia dos dois lados. Ao triturar o ex-oráculo da economia liberal, o interesse dos deputados era aparecer bem na TV às vésperas da eleição de 4 de novembro. O clima de inquisição não ficou devendo nada às CPIs brasileiras.
Os deputados patrolaram Greenspan como se o ex-chefe do Fed tivesse desfrutado poderes supremos e inamovíveis. O economista soltou então uma frase para tentar frear a verborragia: "Eu fiz tudo porque entendia se tratar do desejo do Congresso". Bingo.
Nunca houve notícia de deputado ou senador agindo de maneira eficaz para conter a bolha imobiliária -da qual há mais de um ano sobravam evidências no noticiário.
Tudo somado, há um certo processo de bananização por aqui.
George W. Bush reage apenas por espasmos. No Congresso, deputados apopléticos vociferam sem propor algo concreto e exeqüível para tirar o país do atual atoleiro. Na cidade mais globalizada do planeta, a notícia de maior relevância é a possível reeleição do prefeito.
Talvez esse seja mais um efeito da globalização. No longo prazo, ficaremos todos parecidos. Medíocres.

frodriguesbsb@uol.com.br



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