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FERNANDO RODRIGUES
A "bananização" dos EUA
WASHINGTON - Em Nova York,
a instância equivalente à Câmara de
Vereadores aprovou uma lei autorizando o prefeito Michael Bloomberg a concorrer a um terceiro
mandato consecutivo. O jornal
"The New York Times", conhecido
por sua cobertura globalizada e internacional, deu ontem manchete
para a possível reeleição do alcaide
local.
Aqui em Washington, deputados
pularam na jugular de Alan Greenspan na quinta-feira. Queriam uma
"confissão" de erros cometidos por
ele no período de 1987 a 2006,
quando dirigiu o Fed, o Banco Central dos EUA. Relutante, o economista de 82 anos admitiu enganos
apenas "parcialmente".
O depoimento de Greenspan durou quase cinco horas. Um oceano
de hipocrisia dos dois lados. Ao triturar o ex-oráculo da economia liberal, o interesse dos deputados era
aparecer bem na TV às vésperas da
eleição de 4 de novembro. O clima
de inquisição não ficou devendo nada às CPIs brasileiras.
Os deputados patrolaram
Greenspan como se o ex-chefe do
Fed tivesse desfrutado poderes supremos e inamovíveis. O economista soltou então uma frase para tentar frear a verborragia: "Eu fiz tudo
porque entendia se tratar do desejo
do Congresso". Bingo.
Nunca houve notícia de deputado
ou senador agindo de maneira eficaz para conter a bolha imobiliária
-da qual há mais de um ano sobravam evidências no noticiário.
Tudo somado, há um certo processo de bananização por aqui.
George W. Bush reage apenas por
espasmos. No Congresso, deputados apopléticos vociferam sem propor algo concreto e exeqüível para
tirar o país do atual atoleiro. Na cidade mais globalizada do planeta, a
notícia de maior relevância é a possível reeleição do prefeito.
Talvez esse seja mais um efeito da
globalização. No longo prazo, ficaremos todos parecidos. Medíocres.
frodriguesbsb@uol.com.br
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