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JOÃO BATISTA NATALI
O síndico
OS PAULISTANOS elegem
amanhã um novo prefeito,
ao fim de uma campanha
que terminou tão lastimável como
começou: um simulacro da escolha
de síndico do condomínio, sem
propostas ambiciosas e integradas
sobre políticas urbanas, saneamento, habitação ou justiça social.
E, sobretudo, de olhos fechados à
crise financeira que baterá forte na
arrecadação municipal.
Já para o primeiro turno a etiqueta de síndico se aplicava a Alckmin, combinando com suas estreitezas e com a identidade doutrinária titubeante do PSDB. Ele e os demais se beneficiavam por não precisarem se contrapor à clara linguagem da direita, já que um Maluf
agora desdentado não conseguiria
semear o medo dos bandidos e se
limitava a circular, mais uma vez,
com a absurda idéia de que governar é uma operação gerencial que
acumula obras de ferro e concreto.
Se chegasse lá, faria estragos, o que
o bom-mocismo ambiental de Soninha prometia consertar.
Havia ainda o PT, que chegou
duas vezes à prefeitura por agregar
o voto útil ao núcleo insuficiente de
eleitores necessários para derrotar
o malufismo. Sem esse roteiro, quis
crescer para os lados da classe média do centro expandido. E se despolitizou. A ponto de Marta acusar
Kassab de furtar suas idéias, forma
indireta de considerá-las intercambiáveis entre os diversos segmentos sociais de condôminos e de
também vê-las -o que é rigorosamente verdade- sem a antiga marca registrada da esquerda.
Kassab não tinha nada a oferecer
em termos políticos. Passou a borracha em sua biografia e guardou
na gaveta, enquanto pode, sua integração aos planos de poder de Serra. Sua agenda de candidato e seu
horário eleitoral, de longe os mais
engenhosos, passaram então a insistir na idéia de gerenciamento
despolitizado da cidade.
Mas não há entre todos eles uma
equivalência simétrica. O divisor
das águas eticamente poluídas partiu desta vez do PT, com as insinuações sobre o adversário do segundo
turno. Na lógica que leva os marqueteiros a se tornarem mais poderosos que o histórico (ou o mito do
histórico) de um partido, a candidata acabou por emporcalhar sua
biografia. Será uma das muitas razões pelas quais ela hoje poderá pagar um alto preço por isso.
A mais que provável reeleição
amanhã do insosso Kassab (mérito
para sua imagem: ela não é indigesta) não trará para São Paulo um diferencial importante. Ele e Marta
administrariam o município de
modo semelhante, em companhia
de uma multidão de burocratas do
segundo escalão que procura há
mais de duas décadas fundir a idéia
de contracheque com o exercício
partidário do poder.
JOÃO BATISTA NATALI é repórter da Folha. Hoje,
excepcionalmente, não é publicado o artigo de Gustavo Franco.
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