São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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PLÍNIO FRAGA

O bolso ou a vida

RIO DE JANEIRO - O governo do Rio acredita que precisa criar pelo menos 43 novas unidades de policiamento em favelas, grande parte delas sob o controle do tráfico e das milícias (quadrilhas de policiais e ex-policiais). São as chamadas unidades pacificadoras, constituídas por policiais recém-formados (para evitar a corrupção) e que passam a vigiar uma área durante 24 horas.
Essas 43 unidades atuariam em 156 das mais de mil favelas do Rio. A polícia precisaria contratar, pelo menos, mais 12 mil policiais, quase um terço do efetivo atual de 43 mil homens. Para tal, seria necessário um acréscimo anual de cerca de R$ 144 milhões na folha do Estado.
Além da necessidade de dinheiro, há a dificuldade prática de recrutamento, que tem de ser feito por etapas, durante vários anos. A polícia do Rio não consegue preencher as vagas abertas nos seus concursos, que têm baixa taxa de aprovação por falta de qualificação dos candidatos, uma consequência do salário inicial oferecido -R$ 1.000.
Na Colômbia, onde a experiência de ocupação contínua é apontada como exemplo, houve necessidade de criação de novos impostos para pagar a conta -como o extra cobrado pelo uso do telefone celular.
A partir da ocupação, em cada favela, é preciso programas de educação, formação profissional, vagas de trabalho, além de recursos para saúde e saneamento. O que multiplica em muitos milhares de reais o investimento necessário. Para melhorar o Rio, a polícia tem de extirpar a corrupção, o Estado tem de se mostrar melhor gestor e o contribuinte tem de cobrar resultados e estar ciente de que pagará a conta.
Reclama-se muito da criminalidade do Rio, mas normalmente limitando-a a um caso de polícia. É também, mas não pode ser desvinculada da necessidade de reformas econômicas e sociais. É a velha questão: o bolso ou a vida.


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