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PLÍNIO FRAGA
O bolso ou a vida
RIO DE JANEIRO - O governo do
Rio acredita que precisa criar pelo
menos 43 novas unidades de policiamento em favelas, grande parte
delas sob o controle do tráfico e das
milícias (quadrilhas de policiais e
ex-policiais). São as chamadas unidades pacificadoras, constituídas
por policiais recém-formados (para
evitar a corrupção) e que passam a
vigiar uma área durante 24 horas.
Essas 43 unidades atuariam em
156 das mais de mil favelas do Rio. A
polícia precisaria contratar, pelo
menos, mais 12 mil policiais, quase
um terço do efetivo atual de 43 mil
homens. Para tal, seria necessário
um acréscimo anual de cerca de R$
144 milhões na folha do Estado.
Além da necessidade de dinheiro,
há a dificuldade prática de recrutamento, que tem de ser feito por etapas, durante vários anos. A polícia
do Rio não consegue preencher as
vagas abertas nos seus concursos,
que têm baixa taxa de aprovação
por falta de qualificação dos candidatos, uma consequência do salário
inicial oferecido -R$ 1.000.
Na Colômbia, onde a experiência
de ocupação contínua é apontada
como exemplo, houve necessidade
de criação de novos impostos para
pagar a conta -como o extra cobrado pelo uso do telefone celular.
A partir da ocupação, em cada favela, é preciso programas de educação, formação profissional, vagas de
trabalho, além de recursos para
saúde e saneamento. O que multiplica em muitos milhares de reais o
investimento necessário. Para melhorar o Rio, a polícia tem de extirpar a corrupção, o Estado tem de se
mostrar melhor gestor e o contribuinte tem de cobrar resultados e
estar ciente de que pagará a conta.
Reclama-se muito da criminalidade do Rio, mas normalmente limitando-a a um caso de polícia. É
também, mas não pode ser desvinculada da necessidade de reformas
econômicas e sociais. É a velha
questão: o bolso ou a vida.
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