São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

Modelos de crescimento

NÃO HÁ COMO negar que o modelo chinês de crescimento econômico é diferente de tudo o que vinha sendo aplicado por outros países e que ele dá resultado.
No Brasil, prestar atenção à experiência chinesa não significa esquecer as referências europeia e americana que nos nortearam até a década de 90. Também não implica ignorar duas questões graves do modelo chinês como projeto de desenvolvimento: o regime político fechado e o minúsculo impacto em termos de justiça social.
Mas se nestes aspectos discordo do modelo, reconheço que vale a pena olhar para as suas virtudes.
Uma delas é a forte parceria entre Estado e empresas, uma equação virtuosa na qual o governo é forte e as empresas também são fortes.
Outro ponto positivo é a construção econômica voltada para fora. As economias que se voltam para dentro não evoluem. O crescimento e o desenvolvimento só acontecem quando são gerados excedentes para exportação e as empresas se internacionalizam, com instalações e produção nos países onde estão os seus clientes.
E temos a visão de longo prazo. O fenômeno que estamos assistindo não é fruto de planejamento recente.
Quem quer chegar ao topo precisa olhar pelo menos 25 anos à frente. A China, no final dos anos 70, definiu como projeto crescer 10% ao ano durante 50 anos.
Só à guisa de comparação: há 25 anos, o Brasil exportava tanto quanto a China. E nós vendíamos mais do que eles para os Estados Unidos. Hoje, ainda somos 1% do comércio mundial, como éramos naquela época, mas a China já alcança quase 10%.
Vale também destacar no modelo chinês: carga fiscal e regulatória baixas; construção de infraestrutura de primeira classe pela combinação de gastos privados e estatais; e atração do investimento estrangeiro não como poupança externa, mas para adquirir tecnologia e para abrir novos mercados.
Há quem procure desmerecer a China tratando-a como fabricante de produtos de má qualidade, imitadora não autorizada de marcas ocidentais e exploradora de mão de obra barata. Há alguma verdade nessas acusações, embora isso não seja privilégio da China.
Inquestionável é que o modelo chinês, do ponto de vista econômico, é o mais ajustado ao mundo contemporâneo.
O Brasil também pode fomentar a cooperação entre o Estado e a iniciativa privada, consolidar uma economia exportadora e planejar a caminhada rumo aonde queremos chegar em 2040. Mas para tanto é preciso investir em educação, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e na criação de empresas campeãs mundiais em seus setores.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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