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EMÍLIO ODEBRECHT
Modelos de crescimento
NÃO HÁ COMO negar que o
modelo chinês de crescimento econômico é diferente de tudo o que vinha sendo
aplicado por outros países e que ele
dá resultado.
No Brasil, prestar atenção à experiência chinesa não significa esquecer as referências europeia e
americana que nos nortearam até a
década de 90. Também não implica
ignorar duas questões graves do
modelo chinês como projeto de desenvolvimento: o regime político
fechado e o minúsculo impacto em
termos de justiça social.
Mas se nestes aspectos discordo
do modelo, reconheço que vale a
pena olhar para as suas virtudes.
Uma delas é a forte parceria entre
Estado e empresas, uma equação
virtuosa na qual o governo é forte e
as empresas também são fortes.
Outro ponto positivo é a construção econômica voltada para fora. As economias que se voltam para dentro não evoluem. O crescimento e o desenvolvimento só
acontecem quando são gerados excedentes para exportação e as empresas se internacionalizam, com
instalações e produção nos países
onde estão os seus clientes.
E temos a visão de longo prazo. O
fenômeno que estamos assistindo
não é fruto de planejamento recente.
Quem quer chegar ao topo precisa olhar pelo menos 25 anos à frente. A China, no final dos anos 70,
definiu como projeto crescer 10%
ao ano durante 50 anos.
Só à guisa de comparação: há 25
anos, o Brasil exportava tanto
quanto a China. E nós vendíamos
mais do que eles para os Estados
Unidos. Hoje, ainda somos 1% do
comércio mundial, como éramos
naquela época, mas a China já alcança quase 10%.
Vale também destacar no modelo chinês: carga fiscal e regulatória
baixas; construção de infraestrutura de primeira classe pela combinação de gastos privados e estatais;
e atração do investimento estrangeiro não como poupança externa,
mas para adquirir tecnologia e para
abrir novos mercados.
Há quem procure desmerecer a
China tratando-a como fabricante
de produtos de má qualidade, imitadora não autorizada de marcas
ocidentais e exploradora de mão de
obra barata. Há alguma verdade
nessas acusações, embora isso não
seja privilégio da China.
Inquestionável é que o modelo
chinês, do ponto de vista econômico, é o mais ajustado ao mundo
contemporâneo.
O Brasil também pode fomentar
a cooperação entre o Estado e a iniciativa privada, consolidar uma
economia exportadora e planejar a
caminhada rumo aonde queremos
chegar em 2040. Mas para tanto é
preciso investir em educação, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e na criação de empresas campeãs mundiais em seus setores.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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