São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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RUY CASTRO

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RIO DE JANEIRO - Em 1968, podia-se definir um jovem pelo livro que ele trazia sob o braço. Se fosse "O Capital", de Karl Marx, sabia-se que era um rapaz sério, persistente, chegado ao velho Partidão e cronicamente sem namorada. Já o portador de "Eros e Revolução", de Herbert Marcuse, era atrevido, airoso e meio irresponsável -em dois anos já estaria na metralha, namorando atrizes do Cinema Novo e sequestrando embaixadores. E havia o leitor de Marshall McLuhan, cujos livros "Understanding Media" e "The Medium is the Massage" ainda não tinham saído no Brasil, mas dos quais já se sabia tudo.
Este último, ao se identificar com algum dos lados da política, estaria mais para Marcuse do que para Marx, embora sua "postura" íntima e pessoal apontasse para um sábio e salutar ceticismo. Os leitores de McLuhan foram dos primeiros no mundo a desacreditar da dualidade esquerda-direita, e isso já então -no que, naturalmente, eram tachados de alienados e reacionários pela exigente esquerda.
Numa época em que, para a inteligência, tudo girava em torno da luta de classes, McLuhan escrevia coisas como "a roda é uma extensão do pé; o livro, uma extensão do olho; a roupa, uma extensão da pele; o circuito elétrico, uma extensão do sistema nervoso central".
Eram conceitos tão novos que não se sabia muito bem o que fazer com eles. Hoje, qualquer pessoa consegue entendê-los e até aplicá-los em outros contextos. Exemplos: "O restaurante é uma extensão do escritório". "O engarrafamento, uma extensão do lazer". "O cinema, uma extensão da bonbonnière". "A esquerda, uma extensão da direita". Etc.
McLuhan pode ter errado apenas ao dizer que o circuito elétrico era uma extensão do sistema nervoso central. Pelo que me falam sobre cada novo "aplicativo" disponível nos celulares, desconfio que esteja se tornando o contrário.


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