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FERNANDO RODRIGUES
Poligamias partidárias
BRASÍLIA - Existe uma indignação
sazonal na política brasileira. A cada quatro anos, o país se choca ao
se dar conta que só uma minoria
dos deputados federais se elege
com os próprios votos. Neste ano,
foram apenas 35 dos 513.
É um erro atribuir o baixo nível
do Congresso a esse fenômeno. O
sistema eleitoral proporcional é até
vantajoso: todos os votos contam.
Mesmo que o escolhido pelo eleitor não se eleja deputado, o voto vai
para o partido. Quantos mais votos
os candidatos de uma legenda têm,
mais deputados a sigla elege.
A distorção se dá por causa das
coligações partidárias. No Maranhão, o PT (de centro-esquerda) e o
DEM (de direita) aliaram-se na eleição para a Câmara. Votar no PT ajudava o DEM e vice-versa.
A biodiversidade política é geral.
No Amazonas, o DEM coligou-se ao
PC do B. O PTB apoiou José Serra
(PSDB) para presidente, mas na
eleição de deputados no Acre uniu-se ao PT, de Dilma Rousseff.
Esse é um dos venenos da democracia representativa nacional. Um
pacto de conveniência entre os partidos impede alterações.
Siglas menores dependem das
grandes na hora de tentar eleger deputados. Já os partidos maiores precisam do apoio dos nanicos como
meio de viabilizar seus candidatos
a prefeito, governador ou presidente -por causa do tempo de propaganda no rádio e na TV.
Há alguns dias, o Datafolha apurou que 30% dos eleitores já não se
recordavam em quem haviam votado para deputado. O percentual iria
a quase 100% se a pergunta fosse
sobre quais siglas estavam na coligação do candidato a deputado.
Uma medida profilática seria
proibir coligações partidárias em
eleições de deputados. O tema inexiste na campanha. Dilma promete
erradicar a miséria. Serra, um salário mínimo de R$ 600. Ambos professam a crença em Deus. Mas eliminar as convenientes poligamias
interpartidárias nenhum dos dois
jamais ousou sugerir.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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