São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O único problema

RIO DE JANEIRO - Nada mais banal do que anunciar os muitos e graves problemas que desafiarão o próximo governo. Do presidente eleito ao mais humilde contínuo que servirá o café na mais obscura dependência do poder, todos sabem que a vida dos novos governantes não será fácil.
Evidente que os problemas serão hierarquizados, uns mais urgentes do que outros -mas o núcleo de todos eles é a opção que precisará ser tomada a respeito de nossa soberania, que não pode ficar limitada ao direito de ter um hino, uma bandeira e governantes locais em nível de prefeito para baixo.
Neste particular, destaco a atuação de Aloizio Mercadante, escorado pelos dez milhões de votos que obteve na eleição para o Senado e no seu passado de coerência partidária, sem cair na grossura da demagogia e na facilidade do radicalismo.
Não se sabe ainda o que ele será no futuro governo, mas não importa. Semana passada, ele deu o seu recado numa reunião com o segundo homem mais importante do sistema financeiro mundial. Numa economia globalizada, o Brasil só terá soberania se conseguir se libertar da condição colonial imposta pelo Consenso de Washington, cujo braço executivo mais evidente é o FMI e, futuramente, a Alca.
As restrições aos nossos produtos, as cotas que nos são destinadas dentro do mercado global e a falta de reciprocidade nas relações miúdas do cenário internacional são as coordenadas básicas que geram todos os demais problemas, desde a concentração de renda até o preço de um disquete de computador.
Aloizio Mercadante sabe falar grosso sem ser xiita, sabe distinguir o que é permanente e provisório. É um tipo de político diferente, da mesma forma que é um petista diferente.
Estou por fora de seus projetos políticos, mas acho que o melhor lugar para ele será mesmo o Senado.


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