|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O único problema
RIO DE JANEIRO - Nada mais banal do que anunciar os muitos e graves
problemas que desafiarão o próximo
governo. Do presidente eleito ao mais
humilde contínuo que servirá o café
na mais obscura dependência do poder, todos sabem que a vida dos novos governantes não será fácil.
Evidente que os problemas serão
hierarquizados, uns mais urgentes do
que outros -mas o núcleo de todos
eles é a opção que precisará ser tomada a respeito de nossa soberania, que
não pode ficar limitada ao direito de
ter um hino, uma bandeira e governantes locais em nível de prefeito para baixo.
Neste particular, destaco a atuação
de Aloizio Mercadante, escorado pelos dez milhões de votos que obteve
na eleição para o Senado e no seu
passado de coerência partidária, sem
cair na grossura da demagogia e na
facilidade do radicalismo.
Não se sabe ainda o que ele será no
futuro governo, mas não importa. Semana passada, ele deu o seu recado
numa reunião com o segundo homem mais importante do sistema financeiro mundial. Numa economia
globalizada, o Brasil só terá soberania se conseguir se libertar da condição colonial imposta pelo Consenso
de Washington, cujo braço executivo
mais evidente é o FMI e, futuramente, a Alca.
As restrições aos nossos produtos, as
cotas que nos são destinadas dentro
do mercado global e a falta de reciprocidade nas relações miúdas do cenário internacional são as coordenadas básicas que geram todos os demais problemas, desde a concentração de renda até o preço de um disquete de computador.
Aloizio Mercadante sabe falar grosso sem ser xiita, sabe distinguir o que
é permanente e provisório. É um tipo
de político diferente, da mesma forma que é um petista diferente.
Estou por fora de seus projetos políticos, mas acho que o melhor lugar
para ele será mesmo o Senado.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Ciro Gomes e o Ministério Próximo Texto: Boris Fausto: Avanços da esquerda Índice
|