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RACHA NA ECONOMIA
A polarização que aconteceu
no governo Fernando Henrique Cardoso entre os economistas
chamados de "desenvolvimentistas"
e a equipe econômica liderada pelo
ministro da Fazenda, Pedro Malan,
também vai se reproduzindo na gestão Luiz Inácio Lula da Silva. De modo esquemático, na era FHC, Malan
era visto pelos oponentes como o
centro irradiador de uma política liberal ortodoxa, que veio a se voltar
para a formação de superávits fiscais
com vistas a administrar o endividamento público e a confiança dos
mercados financeiros mundiais.
Em contraste, economistas como
Luiz Carlos Mendonça de Barros,
Luiz Carlos Bresser Pereira e José Serra, em que pesem as diferenças entre
eles, coincidiam em enfatizar políticas de crescimento e maior ativismo
por parte do governo.
A entrevista com o vice-presidente
do BNDES, Darc Costa, na Folha de
domingo, deixa claro que cisão semelhante está instaurada no atual
governo. Tendo como superior Carlos Lessa, um desenvolvimentista
histórico, o entrevistado contrapôs-se ao ministro Antonio Palocci, da
Fazenda, e ao responsável pelo Tesouro, Joaquim Levy -cujo órgão foi
por ele designado ironicamente de
"secretaria da tesoura". "Somos desenvolvimentistas. (...) A Fazenda,
não", disse Costa à Folha.
Muito desse desencontro emergiu
com a compra de ações da Vale pelo
BNDES, o que gerou desconforto na
Fazenda e em outras áreas do governo. É certo que Palocci e Lessa estão
em rota de colisão -e que o antagonismo envolve outros ministros. Essa tensão reflete em parte o debate
nacional e os impasses da economia,
ou seja, a urgência de crescer e os limites impostos a esse objetivo pelo
endividamento e pelos mercados financeiros internacionais.
Resta saber até que ponto o conflito
poderá -como seria desejável- se
revelar produtivo e conciliável num
ambiente econômico menos restritivo. Caso isso não ocorra, não é difícil
prever o desfecho. Salvo desastre, Palocci, como Malan, parece ser o lado
mais forte da queda-de-braço.
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