São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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RACHA NA ECONOMIA

A polarização que aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso entre os economistas chamados de "desenvolvimentistas" e a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, também vai se reproduzindo na gestão Luiz Inácio Lula da Silva. De modo esquemático, na era FHC, Malan era visto pelos oponentes como o centro irradiador de uma política liberal ortodoxa, que veio a se voltar para a formação de superávits fiscais com vistas a administrar o endividamento público e a confiança dos mercados financeiros mundiais.
Em contraste, economistas como Luiz Carlos Mendonça de Barros, Luiz Carlos Bresser Pereira e José Serra, em que pesem as diferenças entre eles, coincidiam em enfatizar políticas de crescimento e maior ativismo por parte do governo.
A entrevista com o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, na Folha de domingo, deixa claro que cisão semelhante está instaurada no atual governo. Tendo como superior Carlos Lessa, um desenvolvimentista histórico, o entrevistado contrapôs-se ao ministro Antonio Palocci, da Fazenda, e ao responsável pelo Tesouro, Joaquim Levy -cujo órgão foi por ele designado ironicamente de "secretaria da tesoura". "Somos desenvolvimentistas. (...) A Fazenda, não", disse Costa à Folha.
Muito desse desencontro emergiu com a compra de ações da Vale pelo BNDES, o que gerou desconforto na Fazenda e em outras áreas do governo. É certo que Palocci e Lessa estão em rota de colisão -e que o antagonismo envolve outros ministros. Essa tensão reflete em parte o debate nacional e os impasses da economia, ou seja, a urgência de crescer e os limites impostos a esse objetivo pelo endividamento e pelos mercados financeiros internacionais.
Resta saber até que ponto o conflito poderá -como seria desejável- se revelar produtivo e conciliável num ambiente econômico menos restritivo. Caso isso não ocorra, não é difícil prever o desfecho. Salvo desastre, Palocci, como Malan, parece ser o lado mais forte da queda-de-braço.


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