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CLÓVIS ROSSI
O diploma e o lado
SÃO PAULO - Nos longos 20 anos
(1982-2002) em que Luiz Inácio
Lula da Silva perdia todas as eleições majoritárias que disputava,
cansei de escrever neste mesmo espaço mais ou menos o seguinte: em
um país que foi desde sempre governado por "doutores" e que chegou ao desgraçado estado que todos
conhecemos, ser governado por um
operário está longe de ser um problema.
Agora que Lula é popular o suficiente para ter uma corte de bajuladores para defendê-lo do preconceito, não preciso repetir o que disse. Mas preciso defender Lula
quando ele diz (discurso em setembro, ontem reproduzido pela Folha): "Os anos de escola servem para um milhão de coisas, mas para
decisão política é preciso, antes de
tudo, saber de que lado se está".
Perfeito. Nos 20 anos em que perdia eleição, sabia-se de que lado Lula estava. Sua intuição e as infindáveis conversas com os "doutores"
do próprio PT produziram nele
meia dúzia, uma dúzia, de convicções. Certas ou erradas, havia um
lado, nítido e claro.
Depois que passou a ganhar eleições, primeiro decretou que as convicções de antes não passavam de
"bravatas". Pior: não apresentou,
por falta de tempo ou de idéias, outras convicções.
Decretou depois que "tinha problemas" quem continuava a ser de
esquerda (o lado a que pertencia
enquanto perdia).
Daí, advieram:
1 - A terceirização da política econômica para Henrique Meirelles,
que sempre foi do outro lado.
2 - A terceirização da coordenação política para gente também do
outro lado. É ilustrativo que o atual
responsável pela coordenação política, José Múcio Monteiro, seja um
usineiro nordestino, a nata do conservadorismo, como seus outros líderes no Congresso, Romero Jucá e
Roseana Sarney.
Posto de outra forma: Lula acabou adotando o lado dos que tinham "anos de escola". Qual a vantagem, então, de não tê-los?
crossi@uol.com.br
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