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Recepção equilibrada
Lula evita repetir erros e reafirma laços do Brasil com a democracia e a tolerância ao receber líderes do Oriente Médio
A VISITA do incendiário
presidente do Irã,
Mahmoud Ahmadinejad, fechou um ciclo de
desembarques no Brasil de três
das principais lideranças do chamado Grande Oriente Médio.
Num lapso de dez dias, além do
iraniano, aqui estiveram os presidentes de Israel, Shimon Peres,
e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
O desafio do presidente Lula
era lidar com esses atores de um
conflito histórico seja de modo a
manter a equidistância do Brasil
em relação a cada uma das partes, seja a estreitar intercâmbios
comerciais, seja a reafirmar, em
termos adequados, os compromissos da sociedade brasileira
com a democracia, a tolerância e
o uso pacífico da energia nuclear.
Esse equilíbrio entre interesses e
valores desta vez foi obtido, pelo
Planalto e pelo Itamaraty.
Da tríade, o visitante incômodo, sem dúvida, era Ahmadinejad. Negador do Holocausto, defensor da extinção de Israel, chefe de um governo que persegue
minorias, prende, expurga e condena à morte dissidentes políticos, o líder xiita também havia sido objeto de uma das mais lamentáveis gafes já cometidas por
Lula na política externa.
Em meio a estrondosos indícios de fraude no pleito que reelegeu Ahmadinejad, Lula pôs-se
a defender, em linguagem de crônica esportiva, os resultados oficiais, que estavam "sub judice"
no próprio Irã. Além disso, o governo do Brasil perdeu a chance
de publicar uma nota de repúdio
à repressão maciça contra oposicionistas deflagrada por Teerã.
Deixar de dizer as coisas certas, nos momentos e nos foros
oportunos, nas palavras e nos
atos próprios da diplomacia -eis
a falha na relação do governo Lula com regimes repressivos como
os de Sudão, Cuba, China, Coreia
do Norte e Irã. Esse erro, felizmente, não se repetiu na visita de
Ahmadinejad a Brasília.
A aparição pública conjunta de
Lula e do líder iraniano se restringiu às falas protocolares após
a reunião bilateral de autoridades. Na ocasião, num breve discurso o presidente brasileiro
mencionou o compromisso da
nossa política externa "com a democracia e o respeito à diversidade", a "defesa dos direitos humanos e a liberdade de escolha"
dos cidadãos. Acrescentou o repúdio do Brasil a "todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo".
O direito ao uso pacífico da
energia nuclear, como o Irã alega
pleitear, foi defendido por Lula,
mas "com pleno respeito aos
acordos internacionais". A criação do Estado palestino foi propugnada pelo brasileiro, "ao lado
de um Estado de Israel seguro e
soberano". Esta mesma mensagem foi transmitida por Lula a
Abbas e Peres, acrescida do apelo
para que Israel interrompa a inaceitável construção de assentamentos em território palestino.
Distante do calor dos acontecimentos, quer no aspecto geográfico, quer no geopolítico, é a partir do exemplo de convivência
pacífica entre cidadãos das mais
diversas origens étnicas e crenças religiosas -e do repúdio ao
intervencionismo- que o Brasil
pode exercer influência positiva,
ainda que moderada, no xadrez
sanguinário do Oriente Médio.
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