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CLÓVIS ROSSI
Parem os mercados
SÃO PAULO - Já imaginou se o governo Dilma Rousseff tivesse que
fazer um ajuste fiscal (redução de
gastos e aumento de impostos) de
uns R$ 345 bilhões? Estaria politicamente morto, além de causar um
baita sofrimento ao país.
Pois é algo desse tamanho, na
proporção das respectivas economias, que a Irlanda está sendo
constrangida a engolir.
Não é preciso ser Ph.D em nada
para perceber que o país está condenado a um punhado de anos de
mediocridade econômica e de desemprego elevado (já está em
14,1%, um baita absurdo).
Você, incorrigível otimista, dirá,
com razão, que não há no horizonte
tapuia a mais leve indicação de que
se possa chegar a uma situação irlandesa. Mas:
1 - Também não havia grandes
nuvens no horizonte de 2008,
quando uma crise fabricada externamente levou o Brasil a perder um
ano de crescimento (2009), o que é
dramático quando se sabe que o
país precisa do contrário, ou seja,
crescer dois anos em um ano para
tirar o atraso secular.
Uma nova crise externa pode
atrapalhar muito.
2 - O Brasil faz parte do G20, o clubão que deveria discutir o grande
desequilíbrio da economia moderna, que, mais do que os enormes
saldos chineses versus o imenso
deficit norte-americano, está dado
pela diferença de tempo entre a
ação dos mercados (em geral especulativa) e a reação dos governos.
Um governo como o irlandês (pode citar qualquer outro europeu
que também vale) precisa de quatro
anos para ajustar suas contas, de
resto desajustadas pela irresponsabilidade do setor privado, não do
próprio governo. O mercado, ao
contrário, ataca diariamente, caçando recompensas e pondo os governos contra as cordas.
É urgente mudar os tempos dessa queda de braço sob pena de a
instabilidade tornar-se estável,
com perdão da contradição em
termos.
crossi@uol.com.br
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