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VALDO CRUZ
Sonhos
natalinos
NATAL COMO ESSE, infelizmente, só no próximo governo. A despeito da crise
aguda na economia mundial, teremos ainda um bom final de ano. Os
seguintes, contudo, serão difíceis.
E taxa de crescimento acima de 5%
será missão para o sucessor do presidente Lula. Por sinal, consolidado o cenário político atual, pouco
importa quem ganhará: a receita
será a mesma para que o país tente
voltar a crescer forte.
Dentro do Ministério da Fazenda, por exemplo, é comum ouvir de
assessores de Guido Mantega que,
mantida a tendência de Dilma
Rousseff e José Serra monopolizarem a eleição de 2010, não há com o
que se preocupar. Um deles chega a
dizer que dá até para tirar férias
durante o período eleitoral.
Tal tranqüilidade, com certeza,
não se repete no Banco Central, alguns quilômetros distante do gabinete de Mantega. Na equipe de
Henrique Meirelles, o comentário
deve ser exatamente o oposto: Dilma e Serra vão exercer uma pressão e influência sobre os rumos da
política monetária bem superior à
do presidente Lula, e há risco de
turbulências na campanha.
O fato é que a petista Dilma
Rousseff e o tucano José Serra praticamente rezam pela mesma cartilha. São adeptos de uma forte presença do Estado na economia e críticos contundentes da política monetária conservadora do BC. Dependesse apenas dos dois, o ex-tucano já não estaria mais na direção
do Banco Central.
Claro que, uma vez na cadeira de
presidente, a visão de Dilma e Serra pode sofrer mutações. Tal como
aconteceu com Lula, que se revelou um conservador em termos
econômicos, eles podem se aproximar do estilo atual do petista.
Lula também não gosta nem um
pouco da receita de Meirelles. O
presidente, contudo, assimilou como poucos no mundo petista a importância de uma das regras basilares da economia capitalista: a força
das expectativas e da confiança sobre o ritmo de crescimento do país.
Não por outro motivo o petista
tem insistido nos últimos discursos na necessidade de consumidores e empresários manterem a confiança no país. Pela mesma razão,
Lula sabe que, mesmo desejando,
não pode trocar o comando do BC
em meio a uma crise. Seria o mesmo que jogar gasolina na fogueira.
O presidente perdeu a oportunidade de fazer a mudança na virada
do primeiro para o segundo mandato. Agora terá de aguardar o tempo certo. Que, tudo indica, está
próximo. Quando os juros caírem,
no início de 2009, e a política monetária começar a ser suavizada,
Meirelles deve deixar o BC para retomar seus projetos políticos. Essa
é, pelo menos, a aposta de quem o
conhece de perto. Que diz inclusive
que ele tem sonhos presidenciais.
Tudo bem, estamos numa época
em que sonhar é liberado.
VALDO CRUZ, repórter especial da Folha, escreve hoje excepcionalmente neste espaço.
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