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FERNANDA DA ESCÓSSIA
Patrulha de Carnaval
RIO DE JANEIRO - Primeiro foi o presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Abalou-se até o barracão da São Clemente, na avenida Brasil, para
pedir à escola que jogasse no lixo a alegoria em que Tio Sam faz de privada uma das cúpulas do Congresso.
Ele viu ofensa na brincadeira.
Depois, a mesma São Clemente trocou o nome de uma ala batizada como "Veadinhos de Pelotas", que irritara a cidade gaúcha. Na mudança,
tripudiou: "Não Dou Pelotas para
Veadinhos" é o novo nome.
Agora, o enredo da Grande Rio -
"Vamos Vestir a Camisinha, Meu
Amor"- atrai a ira da Arquidiocese
do Rio. Num enredo sobre o uso do
preservativo, a escola de Joãosinho
Trinta quer levar para a Sapucaí um
carro alegórico com esculturas exibindo as milenares acrobacias do Kama Sutra.
A arquidiocese cria caso todo ano.
Em 89, censurou o Cristo mendigo no
desfile da Beija-Flor.
Os queixosos alegam desrespeito
moral e danos à imagem do país no
exterior. Mas ninguém dá pitaco sobre as mulatas recebendo turistas no
Galeão, num estímulo involuntário à
imagem do Brasil como paraíso sexual. Mal sabem os incomodados
que, para as escolas, quanto mais
disse-que-disse, melhor: mais holofotes elas vão atrair. É como apelido:
quando o apelidado reclama é que
pega mesmo.
Com tanto melindre, o Carnaval
do Rio fica mais amarrado. Não bastassem o ritmo taquicárdico dos
sambas-enredo e o apartheid que
afasta da Sapucaí as comunidades
das escolas, ainda reforçaram a patrulha carnavalesca.
Só falta o advogado de Bush se
queixar da São Clemente, que planeja mostrar o Tio Sam com os dedos
sujos de tinta. Nessa cadência, o politicamente correto acaba virando
enredo.
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