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JOSÉ SARNEY
O livro resiste
ELIO GASPARI , há alguns anos,
escreveu que duas coisas jamais desapareceriam: o livro
e o jornal. Eles venceriam todas as
tecnologias de informação e com
elas disputariam o seu espaço. Li,
ontem, em Clóvis Rossi, que a crise
dos jornais fez parte da agenda do
Fórum Econômico de Davos, com
a conclusão de que ainda não é hora do suicídio. Eterna vida.
Com o livro nesta cesta, creio
que nenhum dos dois sumirá do
mapa. O aquecimento global pode
levantar o nível dos mares, e a água
invadirá as cidades, mas salvaremos os livros, se não pudermos salvar os prédios das bibliotecas.
É que o livro e o jornal são tecnologias avançadíssimas. A história
só existe a partir do livro. Sem Homero, cego, descrever a Guerra de
Tróia, nada saberíamos sobre a Antigüidade. Relembro que graças a
"Ilíada" Schliemann descobriu
Tróia.
Há 40 anos comecei a luta, isolado, para o Brasil iniciar um programa de incentivos fiscais para a cultura, minha causa parlamentar.
Depois de apresentar quase uma
dezena de projetos, tive a felicidade
de, como presidente da República,
fazê-los realidade.
Mas ainda precisamos proteger o
livro. Apresentei um projeto, já
sancionado, de Estatuto do Livro e
outro para a criação de um fundo
para a difusão da leitura e a proteção ao livro.
Precisamos socorrer as bibliotecas, disseminá-las por todos os municípios do Brasil.
Gilberto Dimenstein nos conta
de experiências simples para resolver grandes problemas. Dá um
exemplo: a bibliojegue, que é uma
biblioteca ambulante colocada em
jumentos distribuindo livros na
área rural. No Amapá, é um sucesso
a Arca do Livro. Um baú cheio de livros levado a localidades isoladas
na floresta, onde o livro é recebido
como rei.
Na última eleição, cheguei a Calçoene, um pequeno município
quase na fronteira do Brasil com a
Guiana Francesa. O que me pediram? Estradas, hospitais, casas?
"Senador, mande livros para nós.
Livros!" Meu coração doeu, e dessa
dor quero comungar com todos os
meus leitores.
O livro tem sido muito perseguido. Queimaram-se livros por religião, por ideologia, por preconceito. Queimam-se bibliotecas para
acabá-lo como propulsor de idéias.
Não foi só a biblioteca de Alexandria; mas a Corvina, fundada pelo
rei Matias Corvino em 1476, na
Hungria, a Fatímida, no Egito, com
mais de cem mil livros, e milhares e
milhares delas. Livros isolados,
não sei quantos: bilhões.
Mas ele resiste e resistirá, com o
jornal, que é como seu derivado.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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