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RUY CASTRO
A bordo do bambolê
RIO DE JANEIRO - Outro dia, ao
pensar em algumas contribuições
dos americanos ao espírito humano, lembrei-me do bambolê. Era
aquele aro de plástico -matéria
plástica, dizia-se- que as mulheres
equilibravam na cintura, rebolando
os quadris para não deixá-lo ir ao
chão. E por que me lembrei? Porque, a exemplo de outros "high-
lights" do século, como a bossa nova, a Copa da Suécia e o vestido-saco, o bambolê está fazendo 50 anos.
Em 1958, quando surgiu nos EUA
(e logo chegou ao Brasil), ele foi
uma febre. Mulheres de 5 a 50 anos
passaram a rebolar dia e noite. Em
casa, na calçada, nas ruas, em todo
lugar elas saracoteavam a bordo de
bambolês. A média era de um para
cada mulher, donde uma família
podia dispor de até cinco bambolês.
Seu criador, um americano de 33
anos chamado Richard Kneer (pronuncia-se nêr), na verdade não o inventou. Apenas adaptou-o de um
aro de madeira que vira sendo usado por um anônimo ginasta na Austrália. Daí, fabricou-o em plástico e
vendeu-o para o mundo inteiro
-60 milhões de unidades de saída,
70 milhões em 1959, 100 milhões
em 1960. Ninguém parecia segurar
o bambolê.
De repente, sem explicação, assim como estourara, o bambolê ficou fora de moda ("xangai", segundo Ibrahim Sued) e foi abandonado.
Knerr se viu com 1 bilhão de bambolês encalhados no depósito. Ao
fim e ao cabo, seu lucro com o brinquedo reduziu-se a US$ 10 mil.
Knerr -que morreu no dia 14 último, na Califórnia, aos 82 anos- ficou rico mesmo foi com o frisbee,
um disco de plástico que se joga na
praia e que nunca pegou por aqui
porque já tínhamos coisa muito
melhor, o frescobol. E foi também o
criador daquele abominável spray
de espuma que, este ano, finalmente, o Carnaval carioca proibiu. Ou
seja, viveu da medíocre matéria
plástica.
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