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SÉRGIO MALBERGIER
A mão invisível
EM MENOS de um século, o sistema capitalista gerou forças
mais colossais do que todas as
gerações precedentes combinadas.
A afirmação é de Karl Marx e
Friederich Engels, no jurássico
"Manifesto Comunista", de 1848.
160 anos depois, o sistema combatido pela dupla alemã segue gerando forças colossais, como prova
a emergência de China, Índia e
Brasil, países que estão tirando milhões de pessoas da pobreza com
mais capitalismo, não menos.
Mas o regime vive agora outra de
suas crises cíclicas, parida num caldo explosivo de crédito farto e barato, avanços na engenharia financeira e grandes reservas de capital
de países asiáticos e petroleiros.
Essa frouxidão monetária reanimou a economia global, mas encontrou na nova geração de financistas high-techs um sopro potente
que inflou os ativos. Quase todos os
índices e preços levitaram perto de
suas máximas altistas ao longo de
2007, içados pela sofisticação financeira contagiosa de contratos
futuros, derivativos, SIVs, CDOs...
A multiplicação das siglas atraiu
investidores a um mercado global
sem barreiras, veloz, onde tudo é
precificável e negociável em qualquer intervalo de tempo, a qualquer momento. A sofisticação dos
mecanismos financeiros é tanta
que os governos perderam a capacidade de avaliá-los e segurá-los.
Essa responsabilidade essencial
foi repassada aos próprios mecanismos de controle de risco dos
bancos e às agências de classificação de risco. Mas os riscos foram
mal compreendidos, mal calculados ou simplesmente ignorados
em busca do ganho máximo.
A mão invisível do mercado agora pune quem se excedeu, enquanto a mão visível de bancos centrais
e governos socorre o sistema.
E se inovações financeiras historicamente trouxeram explosão de
preços seguida de crise e queda, esta crise tem uma novidade importante: países emergentes como o
Brasil estão muito mais sólidos,
com reservas trilionárias e empresas capitalizadas, prontos a assumir maior papel na dinâmica global. É esse dinheiro dos "pobres"
que hoje reaviva os "ricos", comprando nacos cada vez maiores de
empresas como Citigroup e UBS.
O Brasil tem a chance de sair
bem dessa crise, com reservas de
US$ 185 bilhões, política monetária conservadora, política fiscal
menos irresponsável, empresas lucrativas, bancos fortes, mercado
interno vultoso. E produção agropecuária recorde -dos poucos setores que podem manter cotações
nessa reprecificação geral para baixo, graças à revolução alimentar na
Ásia e aos biocombustíveis.
Instalado o tumulto econômico,
lideranças globais já debatem maneiras de aperfeiçoar o sistema para torná-lo mais seguro e justo. E
assim avançamos, com a impressão
de que o capitalismo é o pior regime econômico já inventado, com a
exceção de todos os outros que foram tentados até aqui.
SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro .
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