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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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ANTONIO DELFIM NETTO

Percepção externa do Brasil

A economia de um país tem muitas dimensões. É impossível encontrar um indicador agregado capaz de fornecer uma informação adequada sobre o "estado da sua saúde". Comumente são utilizados três números para avaliar a economia: 1) a taxa de crescimento do PIB; 2) o déficit em conta corrente (em porcentagem do PIB) e 3) a taxa de inflação. Uma economia é bem avaliada quando: 1º) a sua taxa de crescimento é próxima ao crescimento do chamado PIB "potencial", que é igual à produtividade média do trabalhador multiplicada pelo número da população economicamente ativa, ou seja, aqueles que podem e desejam trabalhar; 2º) quando seu déficit em conta corrente é percebido como sustentável interna e externamente com a economia crescendo perto do potencial e 3º) quando sua taxa de inflação é próxima à de seus competidores no mercado internacional.
Avaliada por esses critérios, a evolução da economia brasileira entre 2001 e 2002 apresenta resultados mistos: a taxa de crescimento do PIB permaneceu a mesma, em torno de 1,5% (com nova estagnação da renda per capita), mas o déficit em conta corrente apresentou substancial melhoria, tendo se reduzido de 4,6% para 1,7% do PIB. A taxa de inflação, por sua vez, elevou-se de 7,7% para 12,5%. Parece ser possível afirmar, portanto, que, do ponto de vista desses indicadores, a economia não piorou.
Há, entretanto, um indicador que não é um indicador propriamente da saúde da economia, mas da percepção externa dessa saúde, que revela as vicissitudes e peripécias do último ano do governo FHC. Trata-se da taxa de câmbio cujas flutuações, no curto prazo, se refletiram na saúde das empresas que foram levadas a tomar crédito em moeda externa, levantando dúvida sobre a sua solvabilidade e encurtando o crédito externo ao setor privado. Os seus efeitos sobre a relação dívida líquida/PIB também foram significativos. As variações da taxa de câmbio complicaram a situação do setor privado e do setor público, o que, por sua vez, estimulou novas variações da taxa de câmbio, num processo que se auto-alimentou. Quando se tem controle da taxa de câmbio, ela não serve para essa avaliação, porque o seu aumento pode ser um necessário e saudável movimento de correção. Não foi o caso em 2002.
O gráfico mostra a evolução da taxa de câmbio do Brasil, do Chile e do México. Vemos que até meados de abril o comportamento das três era parecido. A diferenciação começa aí.




Como o México e o Chile estiveram sujeitos aos mesmos choques externos que o Brasil, o comportamento do câmbio brasileiro registra o julgamento externo das dificuldades de nossa política econômica em 2002. Desse ponto de vista, temos muito pouco a comemorar.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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