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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"Lost"
SÃO PAULO - Repare, leitor, nas
três cenas seguintes: 1. Franklin
Martins exibe um sorriso orgulhoso e abraça Fidel Castro, posando
para que o próprio Lula os fotografasse juntos; 2. Irritado com a imprensa, Lula nega ter recebido apelos de grupos defensores dos direitos humanos para que intercedesse
em favor do preso político Orlando
Zapata: "Se essas pessoas tivessem
falado comigo antes, eu teria pedido
para ele parar a greve de fome e
quem sabe teria evitado que morresse"; 3. Comentando o caso, o assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia,
diz: "Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro".
Franklin sorri, Lula engambela e
Garcia avacalha. A morte do pedreiro Orlando Zapata, condenado a
mais de 25 anos de prisão por discordar do regime, carimba de vergonha o passaporte da comitiva
brasileira. Viajando com evidente
disposição de render homenagens
ao ditador e usufruir os dias finais
da Disneylândia socialista, o governo Lula se omitiu alegremente, para depois tripudiar sobre o cadáver
quando a realidade o emparedou.
Da tolerância com os desmandos
do regime à idolatria pela figura de
Fidel, subsiste no governo brasileiro (e amplamente na esquerda nativa) a "mitologia do bom tirano"
-expressão do filósofo Ruy Fausto.
Em 2003, a onda de repressão aos
dissidentes resultou no fuzilamento de três pessoas e em outras várias
condenações à prisão perpétua. É
isso o que está em jogo novamente.
Para quem defende de fato os direitos humanos, pouco importa que a
nomenclatura no poder há 50 anos
tenha origem numa revolução feita
em nome de ideais igualitários. Ela
não é menos criminosa por isso.
Marco Aurélio Garcia não gosta
dos seriados de TV americanos
-"esterco cultural", ele disse. Mas é
capaz de baratear os direitos humanos para não atrapalhar a estadia na
ilha de "Lost". No congresso do PT,
ele já havia dito (e Dilma Rousseff
repetiu): "Não aceitamos lições de
liberdade de quem não tem compromisso com ela". Bingo, Garcia!
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