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RUY CASTRO
Festa de arromba
RIO DE JANEIRO - Batida da polícia numa festa de aniversário à
beira da piscina em Feira de Santana, na Bahia, terça-feira, levou à
prisão de 106 "suspeitos de tráfico
de drogas ou de associação com o
tráfico" -disseram os telegramas.
A suspeita tem razão de ser: sobre
as mesas, em arranjos artísticos, a
polícia encontrou 300 gramas de
cocaína, 50 pedras de crack, 2 kg de
maconha e uma quantidade indeterminada de ampolas de lança-perfume à disposição dos convivas.
Suspeita-se de que fossem drogas.
Fosse o níver celebrado com brigadeiros, balas de coco, guaranás e
salgadinhos, os donos da festa estariam livres de qualquer suspeita.
Mas o que intriga é que, com tanta
droga para os convidados (entre os
quais, dez menores) e alguns dos
presentes portando 38s em vez de
línguas-de-sogra, o recato jurídico e
jornalístico ainda aconselhe a chamá-los de suspeitos.
Talvez pela crença, há muito arraigada, de que traficantes não
cheiram, não fumam, não se picam
e não inalam, porque não são trouxas. E, se estavam todos ali numa
alegre confraternização regada a
droga, é porque não se tratava de
traficantes, e sim de usuários. Donde qualquer associação a tráfico é
uma hipótese, e eles serão, no máximo, suspeitos.
Mas, como toda suspeita tem limite, a polícia baiana fez uma triagem no próprio recinto e liberou 31
indivíduos, conservando os 65 restantes, estes decididamente suspeitos. Pode ter ajudado nesta triagem
o fato de que muitos dos elementos
presentes já tinham um histórico
de homicídio, fuga da cadeia e mandato de prisão em aberto.
Cocaína, crack, maconha e lança-perfume não foram as únicas drogas encontradas no ágape. Sabendo-se que era uma festa de aniversário na Bahia, pode-se garantir que
a música que tocava pelos alto-falantes era axé.
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