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Mudança de direção
Modelo de crescimento econômico do país apresenta problemas e exige firme reorientação da agenda do governo nos próximos anos
Ficam cada vez mais evidentes
os aspectos problemáticos do
atual modelo de crescimento do
país. O dinamismo econômico dos
últimos anos, não é mistério, está
ancorado no choque positivo nos
chamados termos de troca: os preços das exportações em relação
aos das importações cresceram
quase 30% entre 2006 e 2010.
A expansão de programas sociais, a continuidade da política
de correção real do salário mínimo
e a ampliação do crédito possibilitaram a transferência de parte
desses ganhos para parcelas mais
amplas de brasileiros. E a contínua valorização cambial permitiu
que o aumento do consumo ocorresse com inflação sob controle.
Na crise de 2008, o Brasil encontrava-se bem aparelhado para
combater o risco recessivo por
meio da expansão de gastos governamentais e do crédito público
-medidas que se justificavam naquele momento. O governo, entretanto, já voltado para a campanha
eleitoral, passou do limite.
O aumento de gastos e a ampliação do crédito público subsidiado mostraram-se excessivos
numa economia que já se aproximava de limites. O superavit primário (antes de despesas com juros) caiu de 3% do PIB para 1,5%,
em meio a novos aportes do Tesouro ao BNDES, que atingiram
exagerados R$ 180 bilhões.
Depois desses excessos, uma
correção de rumos se impõe. É necessário, em primeiro lugar, quebrar a tendência de aceleração da
inflação, o que demandará uma
combinação ainda incerta de juros mais altos com novas medidas
para reduzir o ritmo de crescimento do crédito ao consumidor.
Além disso, é preciso um esforço duradouro de contenção dos
gastos públicos, visando abrir espaço no Orçamento para mais investimentos. Este é, na realidade,
o desafio estrutural do país: reorientar os recursos da economia
para a ampliação da infraestrutura e o aumento da capacidade produtiva, fazendo melhor uso da receita de exportações de matérias-primas. E isso só será possível com
a elevação da poupança interna,
pública e privada.
Ainda não está clara a estratégia da nova administração, mas a
presidente Dilma Rousseff dá sinais de ter compreendido a dimensão de sua tarefa. O corte de
R$ 50 bilhões anunciado para este
ano e a contenção do aumento do
mínimo são um bom começo, mas
novas restrições serão necessárias
de modo a atingir o objetivo de zerar o deficit nominal (incluídas as
despesas de juros) até 2014.
Os repasses ao BNDES também
precisam ser gradualmente reduzidos. Para este ano fala-se em
aporte de R$ 50 bilhões, cerca de
60% do montante de 2010, o que é
aceitável, para não provocar uma
queda brusca no crédito. Deve-se,
ademais, avançar na desindexação da economia.
Em conjunto, essas iniciativas
podem propiciar progressiva redução da taxa básica de juros -e,
com isso, aliviar as pressões de valorização cambial.
É evidente que uma agenda assim não será cumprida em apenas
um ano. Longe de ser um fator de
desestímulo, é preciso compreender que tal reorientação exigirá
mais tempo para ser implementada e dar frutos. Cabe ao governo
demonstrar capacidade política e
firmeza de propósito.
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