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Força a demonstrar
Articulação entre policiais de vários Estados ainda carece de ações cotidianas e com foco para mostrar-se efetiva
É AMBÍGUO o saldo da operação desfechada na sexta pelas polícias civis de
todos os Estados do país.
O futuro dirá se a mobilização de
58 mil agentes sob o propósito
genérico de "demonstrar força"
foi o marco da desejada integração de autoridades contra o crime que não respeita fronteiras.
O Conselho Nacional dos Delegados-Gerais de Polícia Civil, até
então pouco conhecido, foi o pivô da articulação. A operação,
que teve o aval dos governadores,
foi uma miscelânea. Cumpriu
mandados de prisão, apreendeu
drogas, armas, explosivos, produtos falsificados e contrabando,
armou blitze e fez estardalhaço
com sirene.
"Ficou evidente que a localização de foragidos, depósitos de
entorpecentes e de muitos dos
presos em flagrante já era bem
conhecida da polícia." Algumas
implicações dessa constatação,
feita ontem pelo colunista Janio
de Freitas, resumem o temor dos
que encararam a ação da sexta-feira com ceticismo.
As conseqüências da operação
terão sido funestas se ela tiver
servido apenas aos interesses
corporativos das polícias civis.
Prender jamais deveria tornar-se uma opção, um instrumento
facultativo a que os agentes da lei
recorrem quando lhes convém.
Muito da corrupção policial
nasce no terreno pantanoso em
que o servidor negocia o poder
de deter. Seria trágico se do mesmo substrato brotasse um meio
abusivo de a polícia coagir governantes a satisfazer demandas
trabalhistas -por mais justas
que sejam as reivindicações.
Mas é necessário que se dê
tempo aos novos governadores e
à associação incipiente entre policiais estaduais antes de proceder-se a uma avaliação conclusiva do significado desse ensaio de
coordenação nacional.
Há um fator psicológico não
negligenciável no problema da
segurança pública. O Datafolha
mostrou ontem que a violência é
a maior preocupação do país para 31% dos brasileiros. A insegurança assume patamar inédito
em quatro anos, tendo ultrapassado outros problemas como o
desemprego (22%), a saúde
(11%) e a educação (9%).
Além de concentrar crimes
que motivaram comoção nacional, o período recente marcou o
avanço de bandos organizados
em direção ao confronto aberto
com o Estado. Se esses ataques
criminosos, entre outros objetivos, visam a disseminar medo na
população, é natural e desejável
que o poder público responda
também no terreno da percepção de segurança.
Os efeitos positivos de demonstrações de força como a de
sexta, porém, se esvaem tão logo
o dia termina e o policiamento
extraordinário se retira. Força
mesmo está para ser demonstrada a partir de agora, quando se
espera união cotidiana entre as
polícias estaduais em ações com
maior foco -a fim de desbaratar
as principais quadrilhas que
atuam em território nacional.
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