São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A missão comercial argentina

JORGE HENRIQUE TAIANA

Esse tipo de missão é fundamental para aprofundar a integração com o Brasil, nosso grande parceiro regional

A REALIZAÇÃO de uma importante missão comercial multissetorial argentina aos Estados de São Paulo e Minas Gerais constitui uma ocasião propícia para fazer algumas reflexões sobre a relação que une o nosso país ao Brasil.
A missão comercial compõe-se de um grupo de mais de 90 empresários representativos dos mais diversos e dinâmicos setores da nossa atividade econômica, os quais participarão de um seminário de promoção de negócios, de um ciclo de rodadas empresariais e da feira Mercosuper (Curitiba).
Todos nós sabemos que a Argentina e o Brasil têm desenvolvido, ao longo da última década, uma verdadeira parceria estratégica. Associação que não tem feito mais que responder às imposições da geografia e da história e que é a principal opção de nosso país em sua vinculação com o mundo.
Os dois países estão unidos por numerosos projetos em todos os campos -abrangem investimentos mútuos nos setores mais variados, complementação tecnológica e convergência político-econômica.
Sob a ótica econômico-comercial, a criação de um mercado ampliado em nível regional permitiu também desenvolver um espaço de competitividade pelo qual as empresas de nossos países podem ter acesso à economia global. Tal espaço se fortalece a partir do peso que lhe outorga sua população, seu caráter de megaprodutor mundial de alimentos, sua condição de reserva energética e de fonte de biodiversidade, temas dotados de importância estratégica capital.
Em razão dessa realidade, a Argentina pretende conquistar na área comercial um acesso maior e melhor ao mercado brasileiro. Nosso comércio bilateral já está perto dos US$ 25 bilhões anuais, montante que abrange amplíssima variedade de produtos.
Porém, devemos continuar trabalhando, pois nossas exportações totais para o Brasil (US$ 10 bilhões) são apenas pouco mais de 8% das importações brasileiras de todas as origens.
Avaliamos que a Argentina está em condições de aumentar as suas vendas de maneira significativa, porque tanto a nossa economia em geral como o nosso aparelho produtivo direcionado para os mercados internacionais estão atravessando um dos períodos de maior desenvolvimento e modernização de que se tem registro.
Alguns números permitem apreciar melhor essa realidade: nossas exportações dobraram em menos de um qüinqüênio, chegando a US$ 56 bilhões, com uma crescente participação das manufaturas de origem industrial e das manufaturas de origem agropecuária, que já respondem por mais de dois terços das vendas externas.
Em termos de desempenho global da nossa economia, observa-se um crescimento pelo sexto ano consecutivo próximo de 9% ao ano, algo sem precedentes nos últimos cem anos -e isso em um contexto de estabilidade monetária e superávit fiscal.
Quero assinalar que, no Ministério de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto, os nossos esforços de promoção também estão voltados para apoiar o desempenho das pequenas e médias empresas do país e das economias regionais, em um processo que chamamos de "federalização do comércio exterior".
Um claro exemplo disso é a presença nesta missão do governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, e do governador da Província de Chubur, Mario das Neves.
Em relação a nossa política comercial com o Brasil, nossa política atual consiste em nos dirigirmos da maneira mais específica possível às diversas regiões do país.
É por essa razão que hoje estamos na pujante região Sudeste deste imenso país, do mesmo modo que, em 2006, visitamos com uma missão semelhante o Nordeste brasileiro e que, há menos de um ano, realizamos um seminário e um encontro empresarial bilateral em Buenos Aires com a presença de mais de 50 empresas importadoras brasileiras, as quais tiveram 1.600 reuniões de negócios com empresários argentinos.
Para finalizar, acreditamos que esse tipo de missão é fundamental para aprofundar a integração com o Brasil, nosso grande parceiro regional. Em um mundo cada vez mais globalizado, é essencial trabalhar na complementaridade das duas economias para desenhar um espaço de competitividade que permita a nossas empresas um maior e melhor acesso à economia global.


JORGE HENRIQUE TAIANA, 57, formado em sociologia, é o ministro de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina. Foi secretário-executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

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