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O Brasil e os viajantes do futuro
CAIO LUIZ DE CARVALHO
Estamos nos mesmos 5 milhões de turistas estrangeiros que
recebíamos em 2000. Refletir é preciso
O BRASIL, com os seus invejáveis recursos naturais, culturais e humanos, ocupa o 49º
lugar no ranking da OMT (Organização Mundial do Turismo) como receptor de turistas.
As perspectivas, ainda que com o
câmbio desfavorável, podem ser melhores, afirma o Conselho Mundial de
Viagens e Turismo (WTTC), a partir
de medidas para uma infra-estrutura
aeroportuária mais competitiva e segura, regras flexíveis para a aviação,
priorização do turismo interno e captação de fluxos no continente. Pesquisas mostram que, cada vez mais, as
viagens serão de curta distância (76%
em 2020). E o Brasil recebe apenas
17% dos sul-americanos que viajam.
Em 2004, estudo do WTTC destacava questões fundamentais para o
desenvolvimento do setor aéreo no
mundo e já afirmava: "[os] custos futuros com o congestionamento de aeronaves e atrasos nos vôos apontam a
necessidade urgente de investimentos em infra-estrutura".
Entenda-se: pistas, equipamentos
de segurança, esteiras. Não shoppings, mas, isto sim, tirar proveito das
novas tecnologias de satélites em prol
do bom funcionamento aeroportuário e controle de tráfego.
O setor aéreo, segundo a OMT, responde por nada menos que 45% do
total de deslocamentos no mundo.
Logo, destinos que entenderem a importância estratégica do transporte
aéreo terão sucesso no turismo.
Para o Brasil, país-continente, é a
única opção para integrar, deslocar
pessoas, receber fluxos turísticos e
transportar riquezas.
Por isso, em São Paulo, está correta
a decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do governador José Serra de fazer de Viracopos um aeroporto do futuro, capaz de receber 60 milhões de passageiros em 2020, ano em
que mais de 1,7 bilhão de viagens estarão acontecendo no mundo. O dobro
das existentes hoje.
Já a consultoria britânica Henley
Centre Headlight Vision, especializada em marketing e estratégias para
cenários futurísticos, prevê em outro
estudo que haverá diversas tribos de
viajantes por volta de 2020: a de seniores, formada por quem terá entre
50 e 75 anos; os clãs mundiais, ou pessoas que viajarão em grupos para visitar amigos e familiares por causa do
crescimento da imigração em um
mundo globalizado; os profissionais
itinerantes, que aproveitarão horários de trabalho mais flexíveis e viagens com custos menores para morar
em localidades com alta qualidade de
vida; os viajantes urbanos em busca
de destinos exóticos e experiências
únicas; e os executivos globais de empresas, que viajam de primeira classe
ou preferem alugar jatos a perder
tempo e negócios.
Ao abordar o futuro, fala-se na cultura da conexão permanente. Não se
trata de viver em aeroportos à espera
de vôos e conexões, mas de facilitar a
vida do viajante com esse que será um
dos itens que vai ditar as tendências
do setor de turismo no mundo.
Consumidores terão conhecimento sobre os mais variados serviços e
exigirão tecnologias de ponta. Vão valorizar a correta gestão de recursos
humanos e a qualidade da hospitalidade em seu sentido acadêmico, ao
mesmo tempo em que demandarão
estar conectados, de forma permanente -por meio de internet sem fio,
celulares ou satélites- em busca de
informação precisa onde quer que estejam e como obter as melhores condições nos preços ou roteiros.
Turistas buscarão qualidade de informação para escolher uma viagem
que irá, mais do que proporcionar um
belo roteiro, oferecer memórias e experiências inesquecíveis objetivando
a chamada FIB -Felicidade Interior
Bruta. Que tem que estar presente em
todas as etapas da viagem, desde a reserva até a volta para casa na retirada
da bagagem transportada por um Airbus 380 com 800 passageiros. E nada
de filas na imigração e cara fechada.
Aconselha-se a partir já para a requalificação dos sistemas de transporte aéreo e intermodais, implantar
infra-estrutura adequada nos aeroportos, ofertar mais vôos, criar modelos de deslocamentos mais rápidos a
destinos sonhados e, acima de tudo,
dar conforto e garantia de segurança a
quem viaja e investe no segmento.
É tempo de companhias aéreas inteligentes, como a JetBlue, de foco no
turismo doméstico e intra-regional,
de exploração de nichos e segmentos
de mercado, de fidelizar e seduzir
com criatividade o imaginário dos turistas que nos visitam. Ou seja, roteiros inusitados e segmentados em vez
dos pacotes turísticos tradicionais.
Com isso, o Brasil pode entrar na
disputa pelas diversas tribos de viajantes do futuro que prometem "desequilibrar" o mercado nos próximos
anos e melhorar sua posição no cenário mundial.
O governo tem trabalhado e feito
muito nos últimos dez anos. Mas estamos nos mesmos 5 milhões de turistas estrangeiros que recebíamos
em 2000, ainda que o faturamento
com o turismo interno tenha crescido. Refletir é preciso.
CAIO LUIZ DE CARVALHO, 56, é presidente da São Paulo
Turismo, professor da Fundação Getulio Vargas e da Universidade Anhembi Morumbi. Foi presidente da Embratur (1995-2002) e ministro do Esporte e Turismo (2002).
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