São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

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KENNETH MAXWELL

Guerras comerciais

DURANTE A campanha presidencial norte-americana, Barack Obama, para cortejar o apoio dos sindicatos, declarou que o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) precisava ser renegociado. A afirmação foi muito comentada na época. Mas o debate sobre o assunto havia morrido -até duas semanas atrás.
Primeiro, no pacote de estímulo aprovado pelo Congresso e assinado pelo presidente Obama, foi incluída uma controvertida cláusula que dá preferência à compra de produtos norte-americanos. Depois, um acordo provisório entre México e EUA que permitia que alguns caminhões mexicanos entrassem nos EUA foi ab-rogado. Os mexicanos viram na decisão a interferência dos sindicatos dos EUA, especialmente o Teamsters, dos caminhoneiros, que ofereceu apoio sólido a Obama na eleição. O governo mexicano retaliou, impondo tarifa de US$ 2,5 bilhões às exportações norte-americanas ao México, como autoriza o Nafta.
O México é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA, e essa disputa surge num momento em que os dois países enfrentam severos problemas econômicos. Além disso, o México está envolvido em uma guerra cada vez mais intensa com os cartéis das drogas que controlam as principais rotas de drogas do país para os EUA.
Os confrontos violentos em Tijuana, o tumulto causado pelo cartel de Sinaloa na costa oeste, o cartel de Juárez e o cartel do Golfo do México, em Matamoros, fizeram de boa parte da fronteira mexicana uma zona de tiro livre. Houve mais de 6.000 mortes desde janeiro de 2008. O motivo é óbvio. Os EUA são o grande mercado para a cocaína e outras drogas. Os mexicanos controlam 90% desse tráfego.
Porque boa parte dos policiais locais são corruptos ou foram intimidados, o México recorreu às Forças Armadas. Os EUA estão diretamente envolvidos. No ano passado, a Iniciativa de Mérida prometia US$ 1,4 bilhão em verbas norte-americanas, em três anos, para fornecer assistência e assessoria às agências policiais mexicanas. Nesse contexto, a disputa sobre o comércio entre os dois países complica um relacionamento já tenso e deixa aberta a possibilidade de manifestações de nacionalismo explícito por grupos de interesses especiais. O quadro não é bonito. A secretária de Estado, Hillary Clinton, está no México até hoje.
O presidente Obama vai se reunir com o presidente Felipe Calderón na metade de abril, a caminho da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago. A situação requer conversa franca sobre comércio, drogas e o relacionamento bilateral. Os EUA fariam bem em ouvir o que México tem a dizer. A conversa não será a mesma de sempre.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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