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KENNETH MAXWELL
Guerras comerciais
DURANTE A campanha presidencial norte-americana,
Barack Obama, para cortejar o apoio dos sindicatos, declarou
que o Acordo Norte-Americano de
Livre Comércio (Nafta) precisava
ser renegociado. A afirmação foi
muito comentada na época. Mas o
debate sobre o assunto havia morrido -até duas semanas atrás.
Primeiro, no pacote de estímulo
aprovado pelo Congresso e assinado pelo presidente Obama, foi incluída uma controvertida cláusula
que dá preferência à compra de
produtos norte-americanos. Depois, um acordo provisório entre
México e EUA que permitia que alguns caminhões mexicanos entrassem nos EUA foi ab-rogado.
Os mexicanos viram na decisão a
interferência dos sindicatos dos
EUA, especialmente o Teamsters,
dos caminhoneiros, que ofereceu
apoio sólido a Obama na eleição. O
governo mexicano retaliou, impondo tarifa de US$ 2,5 bilhões às
exportações norte-americanas ao
México, como autoriza o Nafta.
O México é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA, e essa
disputa surge num momento em
que os dois países enfrentam severos problemas econômicos. Além
disso, o México está envolvido em
uma guerra cada vez mais intensa
com os cartéis das drogas que controlam as principais rotas de drogas do país para os EUA.
Os confrontos violentos em Tijuana, o tumulto causado pelo cartel de Sinaloa na costa oeste, o cartel de Juárez e o cartel do Golfo do
México, em Matamoros, fizeram
de boa parte da fronteira mexicana
uma zona de tiro livre. Houve mais
de 6.000 mortes desde janeiro de
2008. O motivo é óbvio. Os EUA
são o grande mercado para a cocaína e outras drogas. Os mexicanos
controlam 90% desse tráfego.
Porque boa parte dos policiais
locais são corruptos ou foram intimidados, o México recorreu às
Forças Armadas. Os EUA estão diretamente envolvidos. No ano passado, a Iniciativa de Mérida prometia US$ 1,4 bilhão em verbas
norte-americanas, em três anos,
para fornecer assistência e assessoria às agências policiais mexicanas.
Nesse contexto, a disputa sobre o
comércio entre os dois países complica um relacionamento já tenso e
deixa aberta a possibilidade de manifestações de nacionalismo explícito por grupos de interesses especiais. O quadro não é bonito.
A secretária de Estado, Hillary
Clinton, está no México até hoje.
O
presidente Obama vai se reunir
com o presidente Felipe Calderón
na metade de abril, a caminho da
Cúpula das Américas, em Trinidad
e Tobago. A situação requer conversa franca sobre comércio, drogas e o relacionamento bilateral.
Os EUA fariam bem em ouvir o que
México tem a dizer. A conversa não
será a mesma de sempre.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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