São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Lixo eletrônico

Recordista na geração de sucata de computadores, país precisa acelerar aprovação de leis que regulem seu descarte

MEIO QUILO por habitante ao ano -esta é a quantidade estimada de lixo eletrônico gerado no Brasil. A cifra, baseada apenas no consumo e descarte de computadores pessoais, surge em relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) que compara a geração desses resíduos em 11 países emergentes.
Pelos cálculos do órgão da ONU, somos campeões em sucata de informática -à frente até dos gigantes China e Índia.
Como quase toda estimativa do gênero, essa também se baseia em projeções sujeitas a debate. Não existe dado oficial sobre quantos computadores, aparelhos de TV ou DVD e videogames vão para o lixo no Brasil. Nem, muito menos, sobre que parcela seria descartada de modo adequado.
As peças maiores dos equipamentos eletrônicos são de plástico, uma família de substâncias para as quais há um sistema razoável de coleta e reciclagem, ao menos nas grandes cidades brasileiras. Neste caso, porém, o diabo se oculta nos detalhes. Vale dizer, nos componentes eletrônicos, como placas e circuitos.
Apesar de modestos em peso e volume, eles contêm metais tóxicos, como chumbo, mercúrio, cádmio, níquel e berílio. Se não forem reaproveitados corretamente, podem acumular-se no solo, alcançando lençóis freáticos. Por meio da água, há o risco de se concentrarem aos poucos no organismo humano.
Em países mais ricos, adota-se a chamada logística reversa. Em poucas palavras, fabricantes e revendedores são obrigados a receber de volta os equipamentos e cuidar de sua reciclagem.
Ao assumir esse custo, impedindo que seja compartilhado na forma perversa de contaminação de bens de uso público, como a água, os participantes da cadeia produtiva ganham um incentivo para racionalizar o emprego de componentes tóxicos.
O ônus adicional acabará por refletir-se no preço final dos produtos, fazendo com que os consumidores também arquem com o preço da deposição do bem adquirido -de acordo com o princípio do poluidor-pagador.
No Brasil, a logística reversa já vale para pilhas e baterias, fontes notórias de metais pesados. O método está previsto também para o lixo eletrônico na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A legislação, aprovada na Câmara, aguarda deliberação do Senado e sanção presidencial.
À taxa estimada de 96,8 mil toneladas por ano de resíduos gerados só por computadores, às quais se somam outras 156,4 mil t/ano de impressoras, TVs e celulares, manda a prudência que os parlamentares se apressem.


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