São Paulo, sábado, 26 de março de 2011

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Vale tudo

Não será por certo o único aspecto do governo Dilma Rousseff a revelar-se em perfeita continuidade com o de seu padrinho e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, mas já basta: a compulsão de interferir politicamente na gestão das maiores empresas do país.
O caso mais gritante, no presente, é o da Vale. O Planalto fez de tudo para derrubar Roger Agnelli, presidente da empresa, escolhido por acordo de acionistas.
Tal padrão intervencionista de comportamento não é novo. Dilma era ainda ministra, mas já também aspirante a candidata, em outubro de 2009, quando vocalizou mais uma birra de Lula com a direção da empresa, qualificando como "questão de honra" a retomada de investimentos da Vale no polo siderúrgico de Marabá (PA).
Houve outras escaramuças com Agnelli, todas com o mesmo propósito: impor rumos e decisões, como se a Vale ainda fosse estatal.
Não é. O processo de privatização da empresa teve a terceira e última fase concluída em 2002. Quase dois terços de seu capital total se encontram hoje pulverizados entre investidores brasileiros e estrangeiros. O acionista principal é a Valepar, com 33%, repartidos entre o fundo de pensão Previ (58,1%), Bradespar (17,4%), Mitsui (15%) e BNDESPar (9,5%).
O governo federal detém 5,5% do capital total. Seria um acionista como qualquer outro, não fosse pela "golden share" que lhe garante poder de veto em certas questões -nenhuma, contudo, prevê fazer e desfazer presidentes.
A direção da empresa responde apenas a seus investidores, e eles têm motivos de sobra para satisfação. A Vale teve lucro líquido recorde de R$ 30,1 bilhões em 2010.
O governo federal costuma recorrer à Previ para interferir nos rumos da empresa, o que já soa excessivo (a lealdade primeira dos administradores do fundo é devida a seus cotistas). Desta feita, porém, escalou o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, para pedir a cabeça do dirigente desafeto.
Trocando em miúdos, a administração Dilma reincide em um dos piores vícios da era Lula, subordinar os interesses do público e de investidores a maquinações palacianas. E o faz com consistência, como se pode notar pela repetição do mau hábito no loteamento político das diretorias da Caixa Econômica Federal entre apaniguados do PT e do PMDB.


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