São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

"A Era FHC"

Acabo de ler "A Era FHC" (Cultura Editores Associados, 2002), que avalia os últimos oito anos de governo. É uma obra séria, bem-feita e eclética e, por isso, fará parte dos registros da história do Brasil.
O livro mostra um Brasil com muitos problemas: dívidas, juros, desemprego e violência encabeçam a lista. Os textos analisam o que foi realizado e o que falta realizar. É revisitando o passado que se consegue responder à pergunta: se não tivesse sido feito o que foi feito, estaríamos melhor ou pior nos dias atuais?
Em 1990, José Sarney deixou o país com 85% de inflação em um mês. Uma monstruosidade! Em 1992, quatro países tinham uma inflação superior a 1.000% ao ano: Rússia, Ucrânia, Zaire e Brasil. Só o Brasil, com o Plano Real, conseguiu vencer o flagelo inflacionário.
Essa foi a maior conquista de trabalhadores, consumidores e produtores. Jamais chegaríamos aonde chegamos com uma moeda tão doente. Isso exigiu a desindexação da economia, o saneamento das contas públicas, a austeridade fiscal e o estancamento de desperdícios, até mesmo da inadimplência dos Estados e municípios.
Nada disso foi suficiente, porém, para resolver um dos mais graves problemas do Brasil: a obscena taxa de juros de 12,5% ao ano (excluída a inflação). Isso decorre, em grande parte, da dívida pública.
Por que o endividamento explodiu? Porque o governo saneou outras dívidas, como as dos Estados, municípios e "esqueletos escondidos" pelos governos anteriores. Entre 1994 e 2002, mais de 60% do crescimento da dívida mobiliária federal deveu-se ao reconhecimento de passivos contingentes e à assunção da dívida de Estados e municípios.
O Brasil estaria melhor se os governos, os bancos públicos, as empresas estatais, as autarquias etc. continuassem na desordem em que viviam? É claro que não. Os credores teriam quebrado e os problemas sociais seriam piores ainda.
Atualmente, vários candidatos à Presidência da República enchem a boca para dizer: "Não vamos quebrar contratos". Isso contrasta com as suas propostas no passado recente, inclusive a de um plebiscito que pregava abertamente o calote, sem explicar que os prejudicados diretos seriam os detentores de caderneta de poupança e de títulos públicos e os indiretos, os demais cidadãos, que ficariam sem dinheiro, sem emprego e sem futuro -como tristemente vivem os irmãos argentinos.
Uma análise objetiva das conquistas econômicas mostra que os atuais problemas sociais seriam mais graves se o presidente Fernando Henrique Cardoso não tivesse liderado a aprovação de medidas amargas, entre elas a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A "Era FHC" mostra um balanço positivo. A casa foi arrumada. O Brasil está pronto para crescer e, com isso, pagar as dívidas, baixar os juros, estimular os investimentos, gerar empregos e elevar a renda. Daqui para a frente, resta-nos rezar pelo bom comportamento do setor externo e arregaçar as mangas no setor interno.
Mãos à obra.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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