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ALBA ZALUAR
Bons sopros urbanos
NA DESPEDIDA desta coluna,
não poderia deixar de trazer as luzes do final do túnel, os bons ventos que podem nos
fazer superar a crise institucional,
política e moral do momento.
No lugar dos antigos sindicatos e
associações de moradores que lideravam os movimentos políticos há
poucas décadas atrás, movimentos
sociais nas duas maiores cidades
brasileiras propõem mudanças na
cultura urbana e na governança local para enfrentar os problemas
metropolitanos esmagadores.
Fundado em dezembro de 1993,
após o massacre de Vigário Geral, o
Viva Rio tentou congregar vários
setores da sociedade, tendo como
"missão" "integrar a cidade partida
e formar uma cultura de paz" com
projetos experimentais em áreas
pobres.
Em 2004, já teria 1.138 instituições parceiras, atuando em 70 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Centenas de projetos e eventos
localizados e em pequena escala
são, porém, difíceis de avaliar. A integração ainda não aconteceu e a
paz não chegou, mesmo depois de
15 anos de atividade. Excesso de
símbolos da paz (destruição pública de armas, camisetas brancas,
flores e abraços) e pouca socialização na civilidade impedem que o
movimento obtenha mais sucesso.
Há um ano, o movimento Nossa
São Paulo foi lançado para promover iniciativas com base nos valores do desenvolvimento sustentável, da ética e da democracia participativa. Quer transformar São
Paulo "em uma cidade segura, saudável, bonita, solidária e realmente
democrática".
Hoje, já conta com 400 organizações de vários tipos -empresariais,
religiosas, vicinais, culturais, não-governamentais. Mas se propõe a
ser um movimento apartidário e
inter-religioso e, ao contrário do
Viva Rio, sem burocracias hierarquizantes, elástico como as redes.
Inspirou-se no movimento "Bogotá, Como Vamos?", que vem diminuindo as mortes violentas, o
desemprego e a delinqüência juvenil nos últimos anos, diminuindo
várias vezes a taxa de homicídios
com um choque de civilidade, uma
nova cultura urbana.
Tão poderosa se tornou a idéia
que um grupo de cariocas iniciou o
"Rio Como Vamos", em agosto de
2007.
No antigo Distrito Federal não
havia eleições para a prefeitura, e a
população do Rio de Janeiro, alijada das decisões políticas que a afetava, padece até hoje de desconhecimento das funções da prefeitura.
A idéia é reverter esse quadro e fazer com que a população desperte o
interesse pelo monitoramento da
administração pública da cidade.
Não é tarefa fácil nas duas cidades. Mas, com uma cultura da civilidade e da participação responsável, será possível navegar para lá.
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