São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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KENNETH MAXWELL

Mensagens ignoradas

ALGUNS ANOS ATRÁS , me encontrei com o antigo assessor jurídico de Jeane Kirkpatrick no período em que ela serviu como embaixadora dos EUA na ONU. Ele relembrou uma estranha experiência pela qual havia passado em 1982, quando Kirkpatrick voltou ao escritório perplexa depois de atender a um convite de almoço de seu colega argentino na ONU. Ela contou que, a cada duas sentenças, o embaixador argentino fazia uma pausa dramática e dizia: "Malvinas! Malvinas!". O que, perguntou Kirkpatrick ao assessor, queria dizer "Malvinas"?
Jeane Kirkpatrick era supostamente especialista em assuntos argentinos. O regime militar argentino, que ela defendia, a via como amiga. "Malvinas", claro, é a designação que os argentinos dão às ilhas Falkland, em sua disputa com os britânicos pela soberania sobre o arquipélago do Atlântico Sul. A falta de reação de Kirkpatrick foi considerada como um sinal de que os EUA aprovavam a invasão das ilhas, o que aconteceu uma semana mais tarde.
Eu fui testemunha de uma segunda mensagem que passou incompreendida, em 1981. Meu escritório na Universidade Colúmbia ficava no Instituto de Pesquisa sobre Mudanças Internacionais, fundado por Zbigniew Brzezinski, que, até janeiro daquele ano, havia servido como assessor de segurança nacional do presidente Jimmy Carter. Nós realizávamos um seminário semanal sobre assuntos internacionais, e um dos palestrantes foi Benjamin Netanyahu. Discretamente, enquanto respondia a uma pergunta sobre outro tópico, ele disse que os israelenses pretendiam atacar o centro de pesquisa nuclear iraquiano. Ninguém prestou atenção. O silêncio foi interpretado como aprovação. Uma semana depois, os israelenses bombardearam o Iraque.
Em setembro do ano passado, um ataque aéreo israelense destruiu instalações nucleares na Síria. A reação internacional foi notável por seu silêncio. No começo deste mês, os israelenses executaram um grande exercício militar no leste do Mediterrâneo, com mais de cem caças F-15 e F-16, apoiados por aviões de reabastecimento aéreo e helicópteros de resgate. Uma operação dessa escala dificilmente pode ser vista como secreta por qualquer pessoa e teria requerido permissão para sobrevoar o espaço aéreo da Grécia e da Turquia. Era claramente uma simulação de um ataque à usina de enriquecimento nuclear do Irã em Natanz.
A operação israelense foi preocupante a ponto de levar o cauteloso diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Mohamed ElBaradei, a advertir que um ataque ao Irã poderia transformar o Oriente Médio "em uma bola de fogo".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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