São Paulo, sábado, 26 de junho de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Nana, que a Dilma vai pegar

SÃO PAULO - Bilu-bilu. Gugu-dadá. Tchutchuquinha da mamãe... Nana, neném, que a Cuca vem pegar. Boi, boi, boi. Uuééééééééé!!!
"Você confiaria seus filhos para Dilma de babá?". A pergunta, de uma apelação ao mesmo tempo grosseira e ridícula, foi lançada pela vereadora paulistana Mara Gabrilli, anteontem, no seu Twitter.
Tucana e muito ligada a Serra, é pouco provável que ela tenha agido de modo espontâneo e desavisado, como disse: "Estava conversando com uma amiga, que me fez essa pergunta e eu achei interessante".
Tão interessante que poderíamos ir além e imaginar, por exemplo, um "reality show" com Dilma e Serra trocando fraldas, fazendo aviãozinho com a papinha do bebê, disputando quem sabe contar melhor a história do lobo mau ou quem imita melhor a vovozinha.
Não é preciso ir tão longe para concluir que o microblog de Gabrilli foi posto a serviço de uma regressão. Parece óbvio que a pergunta quis estimular no eleitor a rejeição a Dilma, contrapondo à propaganda da mãe do PAC a figura da madrasta ou da bruxa malvada.
A pesquisa CNI/Ibope divulgada na última quarta mostra que a rejeição ao nome de Serra é maior que ao de Dilma (30% contra 23%). Numa eleição precocemente polarizada, isso preocupa muito os tucanos.
A pergunta da vereadora funciona como revelação de um sintoma: não é Dilma que deve saber embalar a criança, mas o tucano que precisa embalar na disputa. O episódio lembra muito a pergunta lançada pela campanha de Marta Suplicy, em 2008, a respeito Gilberto Kassab: "É casado? Tem filhos?". Lá também havia desespero no ar.
O Twitter, essa engenhoca dos pensamentos ligeiros, será mais e mais uma arma da guerrilha eleitoral. Mas Mara Gabrilli não fica bem como guerrilheira. É uma figura pública importante, que torna a política melhor e representa muito para os direitos dos deficientes. Seria melhor também se estivesse preservada dessas baixarias infantis.


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