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CONTRA O MUNDO
Têm sido frequentes as desavenças entre os EUA e o resto
do mundo em questões que dizem
respeito ao multilateralismo. Nesta
semana, contudo, o presidente
George W. Bush exagerou. Ele conseguiu indispor-se por duas vezes
com as Nações Unidas.
Na segunda-feira, Washington informou que iria cancelar uma contribuição de US$ 34 milhões que se
comprometera a fazer para o Fundo
de População e Família da ONU
(Unfpa), que promove programas de
planejamento familiar em 142 países.
O presidente Bush resolveu dar ouvidos à facção antiabortista do Partido
Republicano, que afirmava que esse
dinheiro promoveria, ainda que indiretamente, políticas compulsórias de
aborto e esterilização na China.
Trata-se de um delírio da direita republicana. Em primeiro lugar, o
Unfpa não promove o aborto, muito
menos o aborto compulsório, na
China ou onde quer que seja. Em segundo lugar, as contribuições dos
EUA ao Unfpa sempre foram condicionadas, isto é, o dinheiro não pode, por acordo, ser usado para financiar nenhum programa na China.
Na quarta-feira, a Casa Branca voltou à carga e tentou impedir a aprovação, pelo Conselho Social e Econômico da ONU, de um protocolo opcional à Convenção contra a Tortura
de 1984. O protocolo, que vinha sendo negociado havia dez anos, permite que observadores internacionais
inspecionem prisões dos países signatários. Apesar da oposição de nações como EUA, Irã, China e Cuba, o
documento foi aprovado por 35 votos a favor, 8 contra e 10 abstenções.
De novo, a posição dos EUA não faz
muito sentido. O protocolo é, como
o nome indica, opcional. Se Washington teme abrir suas prisões à
inspeção internacional, basta que
não assine o aditamento. Não havia a
necessidade tentar barrá-lo.
Já é ruim para o mundo que os EUA
se oponham a iniciativas multilateralistas. Quando o fazem com base em
fantasias e não em fatos, a situação
torna-se bem mais preocupante.
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