São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONTRA O MUNDO

Têm sido frequentes as desavenças entre os EUA e o resto do mundo em questões que dizem respeito ao multilateralismo. Nesta semana, contudo, o presidente George W. Bush exagerou. Ele conseguiu indispor-se por duas vezes com as Nações Unidas.
Na segunda-feira, Washington informou que iria cancelar uma contribuição de US$ 34 milhões que se comprometera a fazer para o Fundo de População e Família da ONU (Unfpa), que promove programas de planejamento familiar em 142 países. O presidente Bush resolveu dar ouvidos à facção antiabortista do Partido Republicano, que afirmava que esse dinheiro promoveria, ainda que indiretamente, políticas compulsórias de aborto e esterilização na China.
Trata-se de um delírio da direita republicana. Em primeiro lugar, o Unfpa não promove o aborto, muito menos o aborto compulsório, na China ou onde quer que seja. Em segundo lugar, as contribuições dos EUA ao Unfpa sempre foram condicionadas, isto é, o dinheiro não pode, por acordo, ser usado para financiar nenhum programa na China.
Na quarta-feira, a Casa Branca voltou à carga e tentou impedir a aprovação, pelo Conselho Social e Econômico da ONU, de um protocolo opcional à Convenção contra a Tortura de 1984. O protocolo, que vinha sendo negociado havia dez anos, permite que observadores internacionais inspecionem prisões dos países signatários. Apesar da oposição de nações como EUA, Irã, China e Cuba, o documento foi aprovado por 35 votos a favor, 8 contra e 10 abstenções. De novo, a posição dos EUA não faz muito sentido. O protocolo é, como o nome indica, opcional. Se Washington teme abrir suas prisões à inspeção internacional, basta que não assine o aditamento. Não havia a necessidade tentar barrá-lo.
Já é ruim para o mundo que os EUA se oponham a iniciativas multilateralistas. Quando o fazem com base em fantasias e não em fatos, a situação torna-se bem mais preocupante.


Texto Anterior: Editoriais: UM NOVO EQUILÍBRIO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Alca, pegar ou largar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.