São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Alca, pegar ou largar

SÃO PAULO - Acho que já contei essa historinha neste espaço, mas é forçoso repeti-la.
Em um dia da campanha eleitoral de 1989, a comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje como então candidato do PT, ficou bloqueada em um aeroporto do interior do Paraná. Problemas meteorológicos, mecânicos, sei lá.
O fato é que ficaram horas inutilizados, enquanto seu grande adversário, Fernando Collor de Mello, percorria o país a bordo de uma frota de jatinhos e/ou helicópteros que, em cada cidade que chegava, parecia réplica de filmes da guerra do Vietnã.
Depois de muito tempo, o Espinosa, guarda-costa do Lula, sindicalista metroviário, nome e alma de filósofo, resolveu desabafar:
"Companheiros, se tudo der certo, se nada, mas absolutamente nada, der errado, se conseguirmos tudo o que precisamos, estaremos é ferrados" (uso "ferrados" por motivos, digamos, estéticos, já que a palavra não foi exatamente essa).
Pois é. Quando Horácio Lafer Piva, o presidente, e os jovens técnicos da Fiesp terminaram ontem de apresentar o estudo sobre os efeitos da Alca para o Brasil, não consegui resistir à tentação de contar essa história.
A pilha de problemas que o Brasil tem pela frente para negociar com os Estados Unidos (no fundo, a Alca é uma negociação EUA/Brasil ou, no máximo, EUA/Mercosul) é tão formidável que, mesmo que todos sejam atacados, ainda assim estaremos "ferrados".
Detalhes do estudo, o leitor encontrará no caderno Dinheiro. Palmas para a Fiesp por ter feito as contas na ponta do lápis, em vez de apelar, como tantos, para o puro palpite.
Ainda está em tempo de pegar ou largar. Mas, se for para pegar, o país (governos, empresários, sociedade organizada) tem que se mexer furiosamente. "Ou fazemos isso ou o rolo compressor dos Estados Unidos nos leva de roldão", constata Piva.
Dramático? Não, apenas sincero.


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