|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Alca, pegar ou largar
SÃO PAULO - Acho que já contei essa historinha neste espaço, mas é forçoso repeti-la.
Em um dia da campanha eleitoral
de 1989, a comitiva de Luiz Inácio
Lula da Silva, hoje como então candidato do PT, ficou bloqueada em
um aeroporto do interior do Paraná.
Problemas meteorológicos, mecânicos, sei lá.
O fato é que ficaram horas inutilizados, enquanto seu grande adversário, Fernando Collor de Mello, percorria o país a bordo de uma frota de
jatinhos e/ou helicópteros que, em cada cidade que chegava, parecia réplica de filmes da guerra do Vietnã.
Depois de muito tempo, o Espinosa,
guarda-costa do Lula, sindicalista
metroviário, nome e alma de filósofo,
resolveu desabafar:
"Companheiros, se tudo der certo,
se nada, mas absolutamente nada,
der errado, se conseguirmos tudo o
que precisamos, estaremos é ferrados" (uso "ferrados" por motivos, digamos, estéticos, já que a palavra não
foi exatamente essa).
Pois é. Quando Horácio Lafer Piva,
o presidente, e os jovens técnicos da
Fiesp terminaram ontem de apresentar o estudo sobre os efeitos da Alca
para o Brasil, não consegui resistir à
tentação de contar essa história.
A pilha de problemas que o Brasil
tem pela frente para negociar com os
Estados Unidos (no fundo, a Alca é
uma negociação EUA/Brasil ou, no
máximo, EUA/Mercosul) é tão formidável que, mesmo que todos sejam
atacados, ainda assim estaremos
"ferrados".
Detalhes do estudo, o leitor encontrará no caderno Dinheiro. Palmas
para a Fiesp por ter feito as contas na
ponta do lápis, em vez de apelar, como tantos, para o puro palpite.
Ainda está em tempo de pegar ou
largar. Mas, se for para pegar, o país
(governos, empresários, sociedade organizada) tem que se mexer furiosamente. "Ou fazemos isso ou o rolo
compressor dos Estados Unidos nos
leva de roldão", constata Piva.
Dramático? Não, apenas sincero.
Texto Anterior: Editoriais: CONTRA O MUNDO
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Tão longe, tão perto Índice
|