São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Troca de guarda

Lula, enfim, começa a mudar a cúpula do setor aéreo; crise só poderá ser vencida com boa gestão e novos investimentos

DEZ MESES , um motim, duas catástrofes e várias quebras no sistema aeroportuário depois, o governo Lula começa, enfim, a mudar o comando do setor. Se a escolha de Nelson Jobim como substituto de Waldir Pires não chega a entusiasmar, uma troca de guarda profunda, que vá além da cadeira do titular da Defesa, é passo necessário para que os cidadãos voltem a acreditar na aviação brasileira.
As credenciais do novo ministro não são as mais indicadas diante da magnitude do desafio que se impõe. Seria preferível escalar um quadro que reunisse capacidade de liderança, aptidão executiva, experiência em lidar com situações emergenciais e respaldo da sociedade.
Nelson Jobim é um virtuose na arte de equilibrar-se nas vizinhanças no poder; veste à perfeição o uniforme do PMDB. Seu alinhamento fiel ao grupo governante já lhe havia rendido frutos na gestão FHC. Foi nomeado ministro da Justiça e, depois, indicado para o Supremo Tribunal Federal. A passagem efêmera pela corte, o flerte com aventuras presidenciais e a constante aquiescência para com o Executivo federal projetam no currículo de Jobim a imagem do político que se contenta em sobrenadar.
Como ministro da Defesa, portador de "carta branca" do presidente Lula para fazer as mudanças necessárias à superação do descalabro aéreo, Nelson Jobim tem a oportunidade de melhorar a sua biografia. Será consagrado como administrador público se obtiver êxito na tarefa -êxito que só virá dentro de um programa calcado no binômio gestão/ investimentos.
Dado que a expansão e a melhoria das condições físicas e tecnológicas do transporte aéreo demandam tempo, é fundamental que o Executivo desenvolva já mecanismos para gerir com eficiência os recursos atuais. É preciso desfazer a cacofonia burocrática vigente no setor aéreo e submeter as diversas instâncias a uma única linha de comando.
A substituição iniciada no cargo que Waldir Pires havia tornado definitivamente decorativo deve continuar, alcançando a Infraero -a escabrosa estatal que administra os aeroportos- e a Anac -agência (ir)responsável pela regulação do setor. Nesse último caso, a situação excepcional, de extrema gravidade, por que passa a aviação justifica uma intervenção na agência. O fato de o cargo de seus diretores estar assegurado até mesmo diante de tamanhas provas de incompetência é um escárnio a mais numa crise repleta de escárnios.
Mas recuperar a capacidade do Estado de planejar e impor decisões com rapidez -principalmente aquelas que contrariem interesses imediatos das empresas aéreas- não basta. O governo terá de deslanchar logo um programa de investimentos em infra-estrutura de aeroportos, de controle e segurança de vôo.
A tarefa de Jobim será convencer a gestão Lula a superar a resistência ideológica contra o capital privado. Privatizar aeroportos, obrigando os vencedores dos contratos a realizar obras de expansão e melhoria do sistema, é o melhor meio de aumentar a velocidade desse programa de investimentos, o único capaz de emancipar o Brasil do subdesenvolvimento aéreo.


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