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Troca de guarda
Lula, enfim, começa a mudar a cúpula do setor aéreo; crise só poderá ser vencida com boa gestão
e novos investimentos
DEZ MESES , um motim,
duas catástrofes e várias quebras no sistema aeroportuário depois, o governo Lula começa, enfim, a mudar o comando do setor. Se a escolha de Nelson Jobim como substituto de Waldir
Pires não chega a entusiasmar,
uma troca de guarda profunda,
que vá além da cadeira do titular
da Defesa, é passo necessário para que os cidadãos voltem a acreditar na aviação brasileira.
As credenciais do novo ministro não são as mais indicadas
diante da magnitude do desafio
que se impõe. Seria preferível escalar um quadro que reunisse capacidade de liderança, aptidão
executiva, experiência em lidar
com situações emergenciais e
respaldo da sociedade.
Nelson Jobim é um virtuose na
arte de equilibrar-se nas vizinhanças no poder; veste à perfeição o uniforme do PMDB. Seu
alinhamento fiel ao grupo governante já lhe havia rendido frutos
na gestão FHC. Foi nomeado ministro da Justiça e, depois, indicado para o Supremo Tribunal
Federal. A passagem efêmera pela corte, o flerte com aventuras
presidenciais e a constante
aquiescência para com o Executivo federal projetam no currículo de Jobim a imagem do político
que se contenta em sobrenadar.
Como ministro da Defesa, portador de "carta branca" do presidente Lula para fazer as mudanças necessárias à superação do
descalabro aéreo, Nelson Jobim
tem a oportunidade de melhorar
a sua biografia. Será consagrado
como administrador público se
obtiver êxito na tarefa -êxito
que só virá dentro de um programa calcado no binômio gestão/
investimentos.
Dado que a expansão e a melhoria das condições físicas e tecnológicas do transporte aéreo
demandam tempo, é fundamental que o Executivo desenvolva já
mecanismos para gerir com eficiência os recursos atuais. É preciso desfazer a cacofonia burocrática vigente no setor aéreo e
submeter as diversas instâncias
a uma única linha de comando.
A substituição iniciada no cargo que Waldir Pires havia tornado definitivamente decorativo
deve continuar, alcançando a Infraero -a escabrosa estatal que
administra os aeroportos- e a
Anac -agência (ir)responsável
pela regulação do setor. Nesse
último caso, a situação excepcional, de extrema gravidade, por
que passa a aviação justifica uma
intervenção na agência. O fato de
o cargo de seus diretores estar
assegurado até mesmo diante de
tamanhas provas de incompetência é um escárnio a mais numa crise repleta de escárnios.
Mas recuperar a capacidade do
Estado de planejar e impor decisões com rapidez -principalmente aquelas que contrariem
interesses imediatos das empresas aéreas- não basta. O governo
terá de deslanchar logo um programa de investimentos em infra-estrutura de aeroportos, de
controle e segurança de vôo.
A tarefa de Jobim será convencer a gestão Lula a superar a resistência ideológica contra o capital privado. Privatizar aeroportos, obrigando os vencedores dos
contratos a realizar obras de expansão e melhoria do sistema, é
o melhor meio de aumentar a velocidade desse programa de investimentos, o único capaz de
emancipar o Brasil do subdesenvolvimento aéreo.
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