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CARLOS HEITOR CONY
Uma lona por cima
RIO DE JANEIRO - Como sempre
acontece nas tragédias, é vasto o
acervo de imagens divulgadas pelos
jornais, revistas e TVs nos últimos
dias. Cenas dramáticas de parentes
dos passageiros esperando por notícias, bombeiros resgatando corpos carbonizados, a seqüência de
fotos das vítimas, a maioria delas
sorrindo, em momento bom da vida
-fica difícil para um editor escolher uma delas como logomarca do
acidente na semana passada.
Na segunda-feira, após uma chuva que apesar de forte estava longe
de ser um dilúvio definitivo, o barranco que sustenta as pistas do aeroporto de Congonhas começou a
desabar. Providenciaram uma lona
para proteger o terreno. Uma chuva
mais forte e persistente pode fazer a
pista inteira afundar.
Usuário freqüente daquele aeroporto, sempre cismei com aquele
platô artificial no qual foi construído o aeroporto, transformando-o
numa espécie de porta-aviões em
deque seco.
De ambos os lados da pista, quando os aparelhos manobram para decolar, os passageiros têm a sensação
de que um vento mais forte pode jogar as chamadas "aeronaves" lá embaixo.
Além da precariedade do solo,
proveniente de um aterro, não há
espaço para as emergências de pouso e decolagem. Com o atual volume do tráfego aéreo, de há muito
Congonhas devia estar interditado
e um terceiro aeroporto em São
Paulo já deveria estar em funcionamento, embora contrariando as
companhias aéreas e a maioria dos
passageiros que trocam a segurança
pelo conforto de chegar ou sair próximos do centro da cidade.
Cético por natureza, não acredito
que nenhuma das medidas anunciadas por Lula seja executada. O
máximo que as autoridades poderão fazer é colocar uma lona em cima, não para proteger as pistas, mas
para esconder o desastre.
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