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KENNETH MAXWELL
Gestos que ficam
NA POLÍTICA , uma semana
equivale a uma vida, disse
Churchill.
Os altos e baixos na vida política
podem ser muito próximos, como
ele bem sabia. Sua carreira política
teve enormes fracassos, assim como enormes conquistas, admiração pública assim como repúdio
público. Às vezes esse momento de
transição é registrado em uma
imagem que capta o clima geral, ou
dá rosto a uma mudança profunda
da opinião pública; essas imagens
se impõem instantaneamente e
permanecem fixadas indelevelmente na consciência do público.
Essas imagens-paradigmas podem ser boas e felizes: o beijo do jovem marinheiro em sua bela companheira na Times Square em Nova York no fim da Segunda Guerra
Mundial. Ou podem ser imagens
feias e chocantes: a garota vietnamita nua correndo em nossa direção com seu corpo frágil queimado
pelo napalm. Uma vez vistas, essas
imagens não são esquecidas.
A fotografia dominou esse mercado particular no último século e
meio. Mas a internet e o YouTube
acrescentaram um refinamento
importante ao cardápio. Imagens
em movimento que podem ser difundidas instantânea e repetidamente em infinitas redes virtuais
que não exigem vigias de portões e
têm milhares de ávidos divulgadores; tudo isso é muito ruim para os
políticos apanhados em reações
privadas a acontecimentos públicos. Portanto, não causa surpresa
que no início desta semana houvesse mais páginas da web dedicadas a Marco Aurélio Garcia e seu
agora infame gesto do que ao novo
lançamento de Harry Potter.
Os sinais manuais são especialmente abertos a erros de interpretação - algo que o astuto Churchill
bem sabia. Seu famoso sinal do "V"
tinha um forte duplo sentido. Ele
transmitia a afirmação, nas horas
mais sombrias, de que a vitória seria alcançada um dia, mas também
transmitia um desafio obsceno
muito parecido com o gesto do professor Garcia na semana passada;
tudo depende da direção da mão e
dos dois dedos.
Mas é claro que a verdadeira
questão aqui não é o gesto do professor Garcia. É seu momento e sua
justaposição com o local do acidente ainda fumegante em Congonhas; uma combinação de cálculo
político e tragédia humana que
capta instantaneamente as mais
profundas preocupações da população sobre as motivações e a competência de seus governantes.
Não foi, portanto, uma boa semana para o Planalto. Esse é um
gesto que vai ficar.
Como disse Napoleão Bonaparte
depois de sua retirada de Moscou:
"Do sublime ao ridículo há apenas
um passo".
kmaxwell@fas.harvard.edu
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES.
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