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Recuperar o centro
Para revitalizar a região central, é preciso que o poder público conquiste a confiança da iniciativa privada e da população
A CHAMADA cracolândia
existe há cerca de 20
anos na região central
de São Paulo. Tem nome, endereço e alguma notoriedade, ao contrário daquela parcela de seus ocupantes, que, desumanizada e em bandos, consome e comercializa crack a céu
aberto. O poder público ajudou a
moldar esse triste espetáculo urbano ao omitir-se ou restringir
sua atuação a medidas esporádicas e ineficazes.
A situação foi tolerada até que
se tornasse de difícil solução.
Agora, prefeitura e Estado montam uma operação interdisciplinar na tentativa de enfrentar a
questão de modo adequado.
Além das ações policiais, incumbiram agentes de saúde de persuadir dependentes a deixar a
rua e buscar tratamento médico.
Não é tarefa fácil. Há que se dar
tempo ao tempo para colher resultados -e para tanto é fundamental perseverar. Seria um desastre se mais uma vez as autoridades patrocinassem uma "solução" espalhafatosa e inconsequente para o problema.
A cracolândia é um dos aspectos que assombram o processo
de revitalização do centro de São
Paulo. A degradação dessa área
de cerca de 30 quadras no bairro
de Santa Efigênia é uma espécie
de atestado da incapacidade da
administração pública de garantir as condições necessárias para
levar investimentos à região, em
especial aqueles que possam
atrair moradores.
Embora importantes, os equipamentos culturais que continuam sendo criados em bairros
centrais não bastam para assegurar seu renascimento. Da mesma
forma, a transferência de unidades públicas, como a aventada
mudança da sede do governo estadual para o palácio dos Campos Elíseos, será insuficiente caso não venha acompanhada de
uma política de estímulo à habitação. Este é um aspecto crucial.
Para que empresários sintam-se incentivados a investir e habitantes da cidade se inclinem a
morar no centro é indispensável
remover entraves à construção e
à reforma de edifícios, recuperar
o espaço público e promover a
segurança e a limpeza.
Mais do que isso, é preciso que
as autoridades emitam sinais
inequívocos de que há um projeto de longo prazo, um planejamento sólido, com regras e procedimentos capazes de sobreviver às mudanças políticas.
Não é o que se tem verificado
nos últimos anos. Mesmo numa
única gestão, uma simples mudança de secretários ocasiona
perda de continuidade. É essencial que haja coordenação entre
os diversos órgãos e clareza sobre quem coordena o processo. É
imperioso substituir o receio e as
incertezas dos paulistanos pela
confiança na revitalização.
Nesse sentido, será preciso
avaliar até que ponto irá funcionar o dispositivo de concessão
urbanística escolhido pelo prefeito Gilberto Kassab para a reforma da chamada Nova Luz
-nome escolhido para rebatizar
a cracolândia. Como se anuncia,
o poder municipal irá transferir
uma área para empresas ou consórcios, que terão o direito de desapropriar terrenos para erguer
seus projetos.
A dúvida é se tal mecanismo
conseguirá despertar interesse
ou se o temor quanto a problemas burocráticos e judiciais continuará a impedir que os investimentos privados cheguem ao
centro da cidade.
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