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CARLOS HEITOR CONY
Até quando?
RIO DE JANEIRO - Com a queda
de Getulio Vargas em 1945, por deliberação dos militares que depuseram o ditador, o poder foi entregue
ao presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministro José Linhares.
Naquele tempo e como parte
ainda hoje, o funcionalismo público
em seus vários graus (federal,
estadual e municipal) era a espinha
dorsal do mercado de trabalho
brasileiro.
Linhares nomeou muita gente,
inclusive parentes, o que fez o Barão de Itararé reclamar: "Não são
Linhares, são milhares".
Quando Juscelino nomeou um
parente com o nome de sua família
para importante cargo em estatal, o
"Correio da Manhã" publicou o editorial mais curto da imprensa mundial: "O presidente da República
nomeou um Kubitschek. Este nome não nos é estranho".
O nepotismo é hoje condenado e
com razão, mas na escala dos crimes institucionais, é venial, como a
gula, a preguiça e a soberba em relação aos pecados mortais, como o
homicídio e o roubo.
Ao visitar José Alencar no hospital, Lula encontrou-se com o senador Eduardo Suplicy e reclamou:
"Você está há 18 anos no Congresso
e não sabia de nada?!" Não somente
Suplicy, mas centenas de congressistas nesses últimos anos nada sabiam do que se passava nos porões
da Câmara ou do Senado.
A onda moralista que a mídia desencadeou contra o Senado e em especial contra determinado senador
lembra a virulência udenista que,
expressando a indignação das grandes parcelas da classe média, criaram as condições objetivas para o
movimento militar de 1964. Lembro uma foto publicada do guarda-roupa da mulher de João Goulart
com a legenda: "Até quando vamos
suportar isso?"
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