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EMÍLIO ODEBRECHT
A tragédia do trânsito
ESTAMOS chegando ao fim das
férias de julho e o número de
acidentes nas estradas brasileiras certamente será destaque no
noticiário. É uma história que se
repete, cheia de tragédias anunciadas. Ao longo do ano, são milhares
de mortes e nada parece indicar a
reversão desse quadro.
A versão mais comum aponta a
má qualidade da maioria das estradas brasileiras como a principal razão dos acidentes.
Eu discordo, embora não ache
nossas estradas seguras. Muito pelo contrário, com poucas exceções,
principalmente em São Paulo. A
imprudência e a imperícia são as
principais razões para que entre
ano, saia ano e o número de vítimas
não se reduza.
A chamada Lei Seca, que entrou
em vigor no ano passado, proporcionou uma queda notável nos acidentes com vítimas, particularmente nas grandes cidades. Mas
parece que foi apenas um espasmo
e ilustra bem o que penso sobre o
assunto: a causa preponderante
desse drama é o modelo de concessão da licença para se dirigir veículos no Brasil.
Para que alguém, com 18 anos
completos, obtenha sua carteira de
habilitação, as autoridades do setor
exigem que conheça a legislação
pertinente, a sinalização, os direitos e deveres do motorista; saiba
locomover o veículo, estacionar,
fazer certas manobras; seja aprovado em uma avaliação de caráter
psicotécnico.
Entretanto, o que precisamos é
educar o indivíduo para ter no
trânsito uma atitude de respeito
aos demais condutores, aos pedestres e à própria vida. E isso, hoje, se
reduz a campanhas publicitárias
feitas pelos órgãos do setor.
Um programa educativo estruturado, aplicado a partir dos primeiros anos da vida escolar, seria
um enorme passo para despertar
nos candidatos a motoristas a
consciência da própria responsabilidade. E um jovem ou adulto consciente certamente não é imprudente e não dirige embriagado,
nem com sono.
Um agravante é o despreparo para a direção defensiva, disciplina
restrita aos motoristas profissionais, que não raro se transformam
em vítimas dos amadores incompetentes. Por que não a estendemos a todos?
Um motorista preparado para se
defender estará sempre atento e
saberá interpretar, em tempo hábil, o que o outro, ao seu lado ou
vindo em sentido contrário, pretende fazer. Compreendendo o
problema, encontrará a solução.
Essa é uma competência que as autoridades do setor deveriam exigir
e as autoescolas, ensinar.
E, assim, avançaríamos -pela
consciência, atenção e perícia
de nossos motoristas- para um
patamar mais próximo dos padrões já alcançados por países do
Primeiro Mundo.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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