São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

A tragédia do trânsito

ESTAMOS chegando ao fim das férias de julho e o número de acidentes nas estradas brasileiras certamente será destaque no noticiário. É uma história que se repete, cheia de tragédias anunciadas. Ao longo do ano, são milhares de mortes e nada parece indicar a reversão desse quadro.
A versão mais comum aponta a má qualidade da maioria das estradas brasileiras como a principal razão dos acidentes. Eu discordo, embora não ache nossas estradas seguras. Muito pelo contrário, com poucas exceções, principalmente em São Paulo. A imprudência e a imperícia são as principais razões para que entre ano, saia ano e o número de vítimas não se reduza.
A chamada Lei Seca, que entrou em vigor no ano passado, proporcionou uma queda notável nos acidentes com vítimas, particularmente nas grandes cidades. Mas parece que foi apenas um espasmo e ilustra bem o que penso sobre o assunto: a causa preponderante desse drama é o modelo de concessão da licença para se dirigir veículos no Brasil.
Para que alguém, com 18 anos completos, obtenha sua carteira de habilitação, as autoridades do setor exigem que conheça a legislação pertinente, a sinalização, os direitos e deveres do motorista; saiba locomover o veículo, estacionar, fazer certas manobras; seja aprovado em uma avaliação de caráter psicotécnico.
Entretanto, o que precisamos é educar o indivíduo para ter no trânsito uma atitude de respeito aos demais condutores, aos pedestres e à própria vida. E isso, hoje, se reduz a campanhas publicitárias feitas pelos órgãos do setor.
Um programa educativo estruturado, aplicado a partir dos primeiros anos da vida escolar, seria um enorme passo para despertar nos candidatos a motoristas a consciência da própria responsabilidade. E um jovem ou adulto consciente certamente não é imprudente e não dirige embriagado, nem com sono.
Um agravante é o despreparo para a direção defensiva, disciplina restrita aos motoristas profissionais, que não raro se transformam em vítimas dos amadores incompetentes. Por que não a estendemos a todos? Um motorista preparado para se defender estará sempre atento e saberá interpretar, em tempo hábil, o que o outro, ao seu lado ou vindo em sentido contrário, pretende fazer. Compreendendo o problema, encontrará a solução.
Essa é uma competência que as autoridades do setor deveriam exigir e as autoescolas, ensinar. E, assim, avançaríamos -pela consciência, atenção e perícia de nossos motoristas- para um patamar mais próximo dos padrões já alcançados por países do Primeiro Mundo.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.



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