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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Direita, esquerda, centro
SÃO PAULO - Há no Brasil uma direita escandalosa e disposta a se escandalizar com tudo. Sua representação é mais midiática do que propriamente política. E o lulismo tem
a ver com uma coisa e outra.
Ao mesmo tempo em que o êxito
do governo (e, em particular, de Lula) inibiu a emergência de uma opção de direita puro-sangue à sua
sucessão, também desinibiu, pela
mesma razão, o ressentimento ou
às vezes o ódio de setores que se julgam ameaçados pela nova ordem.
A base social dessa direita, para
quem o mundo virou de ponta-cabeça, não são exatamente os detentores da riqueza extrema, que vão
muito bem e talvez daqui a pouco
tenham saudade. Nem, é claro, a
massa pobre, que já esteve em situação pior e sentirá a falta de Lula.
A direita estridente, cínica ou raivosa, fala a (e por) setores de uma
certa alta classe média, que teve
seus sonhos ou pretensões de exclusivismo azedados pela emergência da "nova classe média".
Em termos políticos, a figura um
tanto folclórica de Indio da Costa é
um sintoma do que restou à direita,
imobilizada diante de um presidente que parece ter apresentado o país
a si mesmo. Lula, afinal, faz um governo de comunhão nacional.
Se a direita grita sua impotência,
a esquerda nunca pareceu tão satisfeita. O lulismo anestesiou a intelligentsia, cooptando boa parte dela.
Inverteram-se os papéis clássicos:
temos hoje uma direita apocalíptica e uma esquerda integrada.
Nesse ambiente, o campo de discussão crítica ficou estreito e está
contaminado pelo sectarismo de
uma polarização algo artificial.
Direita e esquerda ganham lastro
na vida real quando vêm acompanhadas do prefixo "centro". Centro-direita, centro-esquerda -é por
aí, distante das extremidades, que
a política entre nós caminha (ou patina). Discute-se a "ampliação" do
Bolsa Família, a "revisão" da política cambial etc. As brigas intelectuais, por isso, podem soar ridículas. Como se, sem perceber, todos
ali fossem só "radicais de centro".
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