São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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RUY CASTRO

No grau inferno

RIO DE JANEIRO - A Secretaria Nacional Antidrogas, órgão do governo federal, quer criar uma agência para pesquisar os "efeitos medicinais" da maconha. Se trabalhar direito, será uma decepção para os usuários da erva: a maconha "medicinal" não viria para ser fumada -mesmo porque esta tem todos os males do tabaco e mais alguns.
A lista de mazelas provocadas pela maconha fumada, estabelecida por médicos da Universidade de Oxford e citada na Folha ("Tendências/Debates", 22/10) pelos doutores Ronaldo Laranjeira e Ana Cecília Marques, inclui dependência química, bronquite crônica, insuficiência respiratória, risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade, depressão, episódios psicóticos, leseira, apatia e baixa do rendimento escolar ou profissional.
Donde, se provadas as qualidades terapêuticas da maconha-embora ninguém tenha conseguido até hoje descobrir sua superioridade em relação às substâncias tradicionais-, seu uso deveria se dar em forma de gotas, pomada, supositório ou o que for, e não enrolada, queimada e tragada. Sem contar que, depois de amplamente vitoriosa em banir o fumacê, a sociedade não poderia aprovar a volta ao espaço público de gente soprando fumaça sobre inocentes e passivos circunstantes.
A secretaria faria melhor se concentrasse seus esforços numa guerra que o Brasil se arrisca a perder: contra o crack, a pior droga já inventada. E a mais covarde.
Os traficantes, mais práticos e profissionais, e beneficiando-se da tolerância com que o Brasil encara a maconha, puseram no mercado a craconha -a maconha enriquecida com fragmentos de pedras de crack. Fulaninho, 15 anos, pega um baseado com seu fornecedor e, sem saber que ele veio premiado, fuma o crack. Com algumas tragadas, estará dependente. E no grau inferno.


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