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RUY CASTRO
No grau inferno
RIO DE JANEIRO - A Secretaria Nacional Antidrogas, órgão do governo federal, quer criar uma agência
para pesquisar os "efeitos medicinais" da maconha. Se trabalhar direito, será uma decepção para os
usuários da erva: a maconha "medicinal" não viria para ser fumada
-mesmo porque esta tem todos os
males do tabaco e mais alguns.
A lista de mazelas provocadas
pela maconha fumada, estabelecida por médicos da Universidade de
Oxford e citada na Folha ("Tendências/Debates", 22/10) pelos doutores Ronaldo Laranjeira e Ana Cecília Marques, inclui dependência
química, bronquite crônica, insuficiência respiratória, risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da
memória, ansiedade, depressão,
episódios psicóticos, leseira, apatia
e baixa do rendimento escolar ou
profissional.
Donde, se provadas as qualidades terapêuticas da maconha-embora ninguém tenha conseguido
até hoje descobrir sua superioridade em relação às substâncias tradicionais-, seu uso deveria se dar em
forma de gotas, pomada, supositório ou o que for, e não enrolada,
queimada e tragada. Sem contar
que, depois de amplamente vitoriosa em banir o fumacê, a sociedade
não poderia aprovar a volta ao espaço público de gente soprando fumaça sobre inocentes e passivos
circunstantes.
A secretaria faria melhor se concentrasse seus esforços numa guerra que o Brasil se arrisca a perder:
contra o crack, a pior droga já inventada. E a mais covarde.
Os traficantes, mais práticos e
profissionais, e beneficiando-se da
tolerância com que o Brasil encara
a maconha, puseram no mercado a
craconha -a maconha enriquecida
com fragmentos de pedras de
crack. Fulaninho, 15 anos, pega um
baseado com seu fornecedor e, sem
saber que ele veio premiado, fuma
o crack. Com algumas tragadas, estará dependente. E no grau inferno.
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