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RICARDO YOUNG
O jovem e a angústia
Nos últimos dias o IBGE
anunciou que o desemprego
está caindo no país. Realmente é uma excelente notícia. No
entanto, ainda falta muito para podermos comemorar o sucesso de oferecer trabalho a
todos os brasileiros. Os jovens
-faixa etária mais afetada pela falta de trabalho- ainda
amargam índices de desemprego muito mais altos do que
a média. Entre 16 e 25 anos o
desemprego atinge quase
25%, ou seja, um em cada quatro jovens está sem trabalho, e
são muito poucas as políticas
públicas focadas na solução
deste problema.
Outra faixa etária que também encontra enormes dificuldades para ter acesso ao
trabalho é a dos adolescentes
de 14 a 16 anos, que, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), apenas podem
exercer a função de aprendiz.
Eu sou de uma geração em que
os jovens começavam a trabalhar muito cedo -muitas vezes entre 13 e 15 anos já ocupávamos o tempo exercendo atividades remuneradas para
ajudar a família ou, em muitos
casos, para ocupar o tempo e
não ficar "vadiando" pelas
ruas.
Desde a implantação do
ECA, que em 13 de julho completou 20 anos, as empresas
passaram a ter de respeitar
normas especiais para a contratação de adolescentes. Dados do Ministério do Trabalho
e Emprego mostram que o Brasil tinha em 2009 pouco mais
de 150 mil jovens contratados
como aprendizes, enquanto o
Estado de São Paulo tinha somente 48.113 jovens nesta
condição. Projeções do MTE
apontam que somente São
Paulo deveria ter 326.952
aprendizes, ou seja, quase sete vezes mais. Sem um grande
trabalho de conscientização
sobre a necessidade de se oferecer oportunidades para estes jovens não será possível reverter este quadro.
Criar mais vagas para
aprendizes é um desafio que
deve ser enfrentado pelo empresariado. E melhorar a qualidade do emprego e do trabalho para jovens é um desafio
que todos devemos encarar. A
sociedade está destruindo as
rampas de acesso dos jovens
ao mercado de trabalho e oferecendo em contrapartida típicas "soluções de mercado".
Tratamos os jovens como consumidores, incutimos os desejos, direcionamos as aspirações, estimulamos o livre arbítrio, mas não lhes damos as
ferramentas de acesso ao
mundo adulto. Precisamos rever nossos "ritos de passagem". Não há mais vagas para
bancários, não há mais vagas
para office boys e arquivistas,
exigimos experiência para
qualquer trabalho inexperiente, criamos verdadeiros moedores de carne em nossas ruas
e vivemos nos perguntando: o
que podemos fazer? É simples,
podemos prestar atenção no
que fazemos em nosso cotidiano e sermos responsáveis pela
sociedade em que vivemos.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
ricardoyoung@uol.com.br
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