São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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RICARDO YOUNG

O jovem e a angústia

Nos últimos dias o IBGE anunciou que o desemprego está caindo no país. Realmente é uma excelente notícia. No entanto, ainda falta muito para podermos comemorar o sucesso de oferecer trabalho a todos os brasileiros. Os jovens -faixa etária mais afetada pela falta de trabalho- ainda amargam índices de desemprego muito mais altos do que a média. Entre 16 e 25 anos o desemprego atinge quase 25%, ou seja, um em cada quatro jovens está sem trabalho, e são muito poucas as políticas públicas focadas na solução deste problema.
Outra faixa etária que também encontra enormes dificuldades para ter acesso ao trabalho é a dos adolescentes de 14 a 16 anos, que, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), apenas podem exercer a função de aprendiz.
Eu sou de uma geração em que os jovens começavam a trabalhar muito cedo -muitas vezes entre 13 e 15 anos já ocupávamos o tempo exercendo atividades remuneradas para ajudar a família ou, em muitos casos, para ocupar o tempo e não ficar "vadiando" pelas ruas.
Desde a implantação do ECA, que em 13 de julho completou 20 anos, as empresas passaram a ter de respeitar normas especiais para a contratação de adolescentes. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que o Brasil tinha em 2009 pouco mais de 150 mil jovens contratados como aprendizes, enquanto o Estado de São Paulo tinha somente 48.113 jovens nesta condição. Projeções do MTE apontam que somente São Paulo deveria ter 326.952 aprendizes, ou seja, quase sete vezes mais. Sem um grande trabalho de conscientização sobre a necessidade de se oferecer oportunidades para estes jovens não será possível reverter este quadro.
Criar mais vagas para aprendizes é um desafio que deve ser enfrentado pelo empresariado. E melhorar a qualidade do emprego e do trabalho para jovens é um desafio que todos devemos encarar. A sociedade está destruindo as rampas de acesso dos jovens ao mercado de trabalho e oferecendo em contrapartida típicas "soluções de mercado".
Tratamos os jovens como consumidores, incutimos os desejos, direcionamos as aspirações, estimulamos o livre arbítrio, mas não lhes damos as ferramentas de acesso ao mundo adulto. Precisamos rever nossos "ritos de passagem". Não há mais vagas para bancários, não há mais vagas para office boys e arquivistas, exigimos experiência para qualquer trabalho inexperiente, criamos verdadeiros moedores de carne em nossas ruas e vivemos nos perguntando: o que podemos fazer? É simples, podemos prestar atenção no que fazemos em nosso cotidiano e sermos responsáveis pela sociedade em que vivemos.


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.

ricardoyoung@uol.com.br


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