São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2011

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Terror norueguês

Uma interpretação alarmista enxergaria no atroz episódio terrorista que atingiu a Noruega uma manifestação violenta do avanço da ultradireita na Europa nos últimos tempos. Não é o caso.
A ascensão dos movimentos xenófobos, de viés autoritário e anti-imigração, ajuda a engrossar o caldo de cultura em que se nutrem psicopatas e assassinos como Anders Behring Breivik, o perpetrador dos massacres de sexta-feira, mas não os explica cabalmente.
O pano de fundo da crise financeira, que atingiu com severidade a Europa em 2008 e ameaça deprimir mais uma vez a economia do continente, tampouco esclarece o atentado. Cataclismos como esses podem exacerbar sentimentos nacionalistas, é fato, mas a economia da Noruega cresce, e o desemprego mantém-se baixo.
Breivik chegou a filiar-se a um partido conservador, mas saiu desiludido. Por volta do ano 2000, segundo descreveu em seu bizarro manifesto, teria concluído que a luta contra a suposta islamização da Europa e o multiculturalismo europeu não alcançaria sucesso por meios democráticos.
O título, "2083 - Uma Declaração Europeia de Independência", parece remeter à batalha de Viena, em 1683, que colocou fim ao avanço otomano sobre a Europa.
Por trás da pretensão de "salvar a Europa do multiculturalismo", como um neocruzado, emerge a motivação personalista. Trata-se de uma busca desesperada por fama e por meios de amplificar delírios sem ressonância nem mesmo nas franjas do debate político.
Não por acaso, a declaração de Breivik plagia termos do manifesto do Unabomber, o norte-americano Theodore Kaczynsky, que aterrorizou os EUA de 1978 a 1995, enviando cartas-bomba que mataram três pessoas e feriram 23.
Ainda que não partilhem as mesmas ideias, ou ódios, ambos integram o grupo dos que apelaram à violência para fazer suas noções extremistas serem ouvidas, assim como Timothy McVeigh, autor do atentado que matou 168 em Oklahoma (EUA), em 1995.
O juiz responsável pelo caso Breivik determinou que sua primeira audiência fosse fechada. Qualquer plateia seria, como disse um observador, "mais uma recompensa do que uma punição".
Já se falou sobre o paradoxo de o terror atingir um país pacífico e desenvolvido como a Noruega. A lição parece ser que mesmo uma sociedade aberta e pluralista não está imune à violência sectária e que ela pode brotar das próprias entranhas, não só do estrangeiro.


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