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Terror norueguês
Uma interpretação alarmista
enxergaria no atroz episódio terrorista que atingiu a Noruega uma
manifestação violenta do avanço
da ultradireita na Europa nos últimos tempos. Não é o caso.
A ascensão dos movimentos xenófobos, de viés autoritário e anti-imigração, ajuda a engrossar o
caldo de cultura em que se nutrem
psicopatas e assassinos como Anders Behring Breivik, o perpetrador dos massacres de sexta-feira,
mas não os explica cabalmente.
O pano de fundo da crise financeira, que atingiu com severidade
a Europa em 2008 e ameaça deprimir mais uma vez a economia do
continente, tampouco esclarece o
atentado. Cataclismos como esses
podem exacerbar sentimentos nacionalistas, é fato, mas a economia da Noruega cresce, e o desemprego mantém-se baixo.
Breivik chegou a filiar-se a um
partido conservador, mas saiu desiludido. Por volta do ano 2000,
segundo descreveu em seu bizarro
manifesto, teria concluído que a
luta contra a suposta islamização
da Europa e o multiculturalismo
europeu não alcançaria sucesso
por meios democráticos.
O título, "2083 - Uma Declaração Europeia de Independência",
parece remeter à batalha de Viena, em 1683, que colocou fim ao
avanço otomano sobre a Europa.
Por trás da pretensão de "salvar
a Europa do multiculturalismo",
como um neocruzado, emerge a
motivação personalista. Trata-se
de uma busca desesperada por fama e por meios de amplificar delírios sem ressonância nem mesmo
nas franjas do debate político.
Não por acaso, a declaração de
Breivik plagia termos do manifesto do Unabomber, o norte-americano Theodore Kaczynsky, que
aterrorizou os EUA de 1978 a 1995,
enviando cartas-bomba que mataram três pessoas e feriram 23.
Ainda que não partilhem as
mesmas ideias, ou ódios, ambos
integram o grupo dos que apelaram à violência para fazer suas noções extremistas serem ouvidas,
assim como Timothy McVeigh,
autor do atentado que matou 168
em Oklahoma (EUA), em 1995.
O juiz responsável pelo caso
Breivik determinou que sua primeira audiência fosse fechada.
Qualquer plateia seria, como disse
um observador, "mais uma recompensa do que uma punição".
Já se falou sobre o paradoxo de
o terror atingir um país pacífico e
desenvolvido como a Noruega. A
lição parece ser que mesmo uma
sociedade aberta e pluralista não
está imune à violência sectária e
que ela pode brotar das próprias
entranhas, não só do estrangeiro.
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