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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Plebiscito nacional: a vida e a dívida
1) O plebiscito ou a consulta
popular faz parte da sociedade
democrática, que solicita o pronunciamento do povo nas questões mais
relevantes que lhe dizem respeito. A
convocação de plebiscitos está prevista na nossa Constituição (art. 14).
2) O problema da dívida externa e
interna vem sendo estudado, há anos,
por várias organizações da sociedade
civil e foi tema da 3ª Semana Social
Brasileira. A CNBB, em colaboração
com o Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs -Conic, a OAB e aproximadamente 50 entidades da sociedade civil promovem, de 2 a 7 de setembro,
uma consulta popular em todo o país.
Essa iniciativa tem a finalidade de levar o debate à opinião pública e alertar
sobre as consequências negativas das
dívidas, externa e interna, para a vida
do povo.
O plebiscito nacional apresenta o lema "A vida acima da dívida", questiona o acordo com o FMI e o ônus criado pelo pagamento das dívidas externa e interna no Brasil e propõe uma
auditoria pública -objetiva e transparente- que examine a complexidade da situação.
3) A principal razão desse debate é
ética. Com efeito, o pagamento da dívida externa e interna impõe uma sobrecarga de obrigações à sociedade:
a) O dinheiro necessário a políticas
sociais (moradia, aumento de empregos, educação, atendimento à saúde,
assentamentos e outros) passa a ser
aplicado para amortizar a dívida e pagar os elevados juros e encargos resultantes. Há, assim, cortes nas políticas
sociais. Em 1999, o governo federal
gastou US$ 127 bilhões para juros e
amortizações. Isso representa 44%
das receitas do Orçamento. Essa soma
seria suficiente, por exemplo, para assentar 5 milhões de famílias de agricultores. b) O endividamento externo
aumenta a dependência econômica
do país e a perda da soberania com
submissão às estratégias internacionais do capital financeiro.
4) Essa situação de progressivo empobrecimento e dependência agrava
ainda mais a vida das nações devedoras. Por isso, o papa João Paulo 2º, na
carta apostólica "Advento do Terceiro
Milênio" (1994), propõe que o Grande
Jubileu seja "um tempo oportuno para pensar numa consistente redução
ou mesmo no perdão total da dívida
internacional que pesa sobre o destino
de muitas nações" (1994, nº 51). E, no
documento "Ecclesia in América"
(1999, nº 59), afirma que "a Igreja não
pode ignorar um problema complexo
que se refere à vida de tantas pessoas".
O que está em questão, portanto, é a
vida e a necessidade de salvaguardá-la.
5) Surge, assim, a proposta da "auditoria pública" sobre a dívida que deverá examinar a razão do empréstimo, a
justiça dos juros e a aplicação dos recursos. Caberá ao governo e às instâncias da sociedade organizativa estabelecerem a possibilidade efetiva de pagamento da dívida, sem lesar mais a
nação já tão prejudicada pela corrupção e pelas privatizações alienadas a
preços baixos.
6) O plebiscito será indicativo do
amadurecimento democrático do país
e abre esperanças de que o governo
brasileiro, diante da evidência dos fatos e da expectativa da sociedade, fortaleça em suas decisões o resgate da
dívida social e a soberania nacional.
No dia 7 de setembro, ecoará o "grito
dos excluídos", anunciando "Progresso e vida, pátria sem dívidas".
Dizer sim à vida é comprometer-se,
diante de Deus, com uma nova ordem
social, marcada pela fraternidade de
quem renuncia a privilégios, aprende
a partilhar e promove a sociedade solidária.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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