São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Crimes
"É com extremo pesar que leio o comentário do leitor Gustavo Uyeda, que não vê dignidade nenhuma em quem comete crimes hediondos. Esquece-se de que a lei não reproduz a verdade -de que haveria, de fato, crimes hediondos. Trata-se de uma convenção política brasileira, que assim os classifica. A criminalidade neste país está tão descontrolada que a classe média, supostamente esclarecida, já reproduz pensamentos de extrema direita, chegando a negar a criminosos certas características inerentemente humanas. A Folha sempre destaca que não é a pena que funciona como obstáculo ao criminoso, mas a certeza de que será pego e punido. Portanto o que importa é o grau de eficiência da polícia em desvendar os crimes."
Matheus Machado de Carvalho, procurador federal (Brasília, DF)

"Olga"
"Parece que o professor Emir Sader, com todo o respeito, não vai muito ao cinema nem tem grande senso estético ("Painel do Leitor", 24/8). Como pode dizer que a Folha "desrecomenda" "Olga" e "recomenda, diariamente, tantas porcarias hollywoodianas" se esse longa brasileiro é tão parecido com qualquer outro filmeco hollywoodiano, sobretudo com os da Miramax? Nunca vi tanto clichê "global" reunido com a intenção de seduzir e de manipular o grande público. Duas estrelas para "Olga" foi uma avaliação generosa. Merecia, no máximo, bola preta."
David Medeiros (São Paulo, SP)

 


"Concordo com o professor Emir Sader. A Folha erra ao dar baixa avaliação para o filme "Olga". O filme é uma verdadeira obra-prima do cinema brasileiro. Saí do cinema convencido de que o cinema nacional está entre os melhores do mundo. Profundo, didático, humano, "Olga" é um belo filme. Dez estrelas, recomendo aos leitores."
José Eduardo Victor (Jaú, SP)

Banco Central
"Desalentadora a medida provisória que desloca para o STF a competência para julgar o presidente do BC. Não se pode perder de vista que os juízes de primeiro grau gozam de garantias constitucionais que lhes asseguram independência, são concursados, imparciais e imunes a pressões. Por que então se quer deslocar aquela competência ? A AJD espera que o Congresso não converta em lei essa MP, que, além de ter objetivos injustificáveis, peca por desnaturar tanto o cargo de ministro de Estado quanto o de presidente do BC."
José Osório de Azevedo Júnior, presidente do conselho executivo da Associação Juízes para a Democracia (São Paulo, SP)

Energia
"O artigo "O novo modelo elétrico e os investimentos" ("Opinião Econômica", Dinheiro, 25/8), do professor Luiz Pinguelli Rosa, é uma demonstração cabal de que precisamos reestatizar imediatamente o setor de energia. Quem fez o que fez no setor não sabe nada de energia, de administração, de civilidade, de brasilidade e de planejamento. O artigo é uma aula sobre por que precisamos retornar ao modelo anterior. À luz da demonstração de que com a Eletrobrás as coisas eram melhores e mais baratas, por que ainda insistimos em manter privatizado um setor tão vital e tão sujeito a "picaretagens'? A quem interessa manter as coisas tão "mal privatizadas'? Seguramente não é ao Brasil nem a qualquer brasileiro comum. Como o autor diz, energia é assunto sério demais para ser deixado só com o mercado."
Luiz Ribeiro Cordioli (São Carlos, SP)

Ditadura sincera
"A ditadura de Getúlio Vargas obrigou a economia do país a evoluir de agrária para industrial, e os 21 anos de ditadura anticomunista terminaram com o Brasil na posição de oitava economia do mundo, o que parece indicar, visto que hoje estamos na 15ª posição, que o Brasil só vai para a frente com ditadura. Se assim for, talvez o modelo ditatorial de Vargas tenha sido mais adequado porque, ao fechar efetivamente o Parlamento, além da expressiva economia com deputados e senadores, foi inovador até em relação a outras ditaduras da época -como a de Stálin e a de Hitler- por lançar o conceito de "ditadura sincera", ou seja, sem Parlamento mamulengo."
Fernando Salinas Lacorte (Rio de Janeiro, RJ)

Células-tronco
"O senador ACM ("Tendências/Debates", 12/8), ao apoiar o uso de células-tronco embrionárias, deixa de lado o fato de que a existência do ser humano começa com a concepção no útero ou "in vitro". A ciência e a Constituição concordam com isso. Não há diferença entre um embrião e um adulto. Matar qualquer um deles é assassinato."
Luiz Carlos Graça Wagner (São Paulo, SP)

Ouro a ser garimpado
"Daiane dos Santos é ouro brasileiro. Não faturou nenhum pódio em Atenas, mas fez muito mais que isso. Saiu da periferia de Porto Alegre, venceu preconceitos de cor e de sexo, transpôs sua condição social, ultrapassou dores e lesões, colocou o Brasil no topo da ginástica olímpica. É um pingo no oceano de talentos que o Brasil estoca em vilarejos, periferias, favelas, semáforos e bancos de praças. Potenciais atletas que continuarão ali porque não terão um momento de graça, um convite, uma janela para uma vida à qual não têm acesso. É doloroso enxergar que nossas poucas medalhas não refletem incapacidade, mas má distribuição de oportunidades."
Fabio Reynol (Campinas, SP)

Gramado
"Na recente edição do Festival de Cinema de Gramado, o senhor Steve Solot, vice-presidente da Motion Picture Association na América Latina, deu declarações fortes e inusitadas sobre assuntos que dizem respeito ao governo do Brasil e à sociedade brasileira. Ontem, nesta seção, o representante do cinema norte-americano voltou à carga, tentando explicar o inexplicável. Diferentemente do que informa em sua carta, ele não "lembrou" que o Brasil pode sofrer sanções do governo americano por uma suposta ausência de combate à pirataria. Eu ouvi a gravação de sua entrevista. Ele afirmou que o país sofrerá tais sanções se não cumprir até o fim de setembro as recomendações do governo Bush. Qualquer um percebe que essa afirmação categórica significa uma ameaça (de sanção) e um ultimato (com prazo definido). Além da questão da pirataria, Solot também criticou, em Gramado, o anteprojeto de criação da Ancinav, que vai criar as condições necessárias para o desenvolvimento contínuo e sustentado da indústria audiovisual brasileira. Ele disse, por exemplo, que haverá desemprego. Disse, mas não embasou o que disse. Trata-se de outra ingerência inadequada em assunto interno do Brasil. A confusão, portanto, não foi minha, mas do senhor Solot. Para que ela não persista, reafirmo a posição do Ministério da Cultura: as providências para um combate efetivo à pirataria estão em curso; o debate de alto nível sobre a criação da Ancinav segue aberto a todos os interessados; não há mais espaço, na democracia global, para ameaças, ultimatos e interferências próprias da Guerra Fria."
Sérgio Sá Leitão, coordenador da assessoria do ministro da Cultura (Brasília, DF)


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